Trazendo-lhe as últimas investigações sobre Ellen G. White
Muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.
1 João 4:1 "Estes livros... suportam a prova da investigação" |
Ernesto Sarmento
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Coimbra, Portugal
2001
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Análise dos escritos da irmã
Ellen G. White durante o período 1844 a 1851. As primeiras experiências
espirituais, crenças, sonhos e visões. Os escritos que depois foram suprimidos
e a sua importância para entendermos o crescimento espiritual e a manifestação do
dom de profecia hoje. Denúncia da manipulação dos textos, supressões e
falsificações desnecessárias e pecaminosas. Não de um modo particular mas
geral. -- Ernesto Sarmento.
O texto abaixo corresponde à
2a. parte e Conclusão do escrito de Ernesto Sarmento a respeito da experiência
de Ellen G. White, como foi exibida no site www.adventistas.com. Quem desejar ler o trabalho completo poderá acessá-lo no
site indicado. Caso não esteja disponibilizado, deve consultar o responsável
pela página que indicará onde encontrá-lo.
Esta 2a. parte trata, entre outras coisas, do
episódio que ficou conhecido como "a descoberta de dado histórico
adventista do século", o episódio de Israel Dammon segundo registros
policiais e judiciais da época do caso.
O autor
neste trabalho de pesquisa, muito bem documentado, pretende fazer apologia da
Sra. White e sua experiência. Diante dos chocantes fatos que ele apresenta, em
estilo de linguagem típico de sua Portugal natal, fica-se a pensar: uma
profetisa com um apologista como este não precisará de opositores . . .
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Ellen White
no período de 1844 a 1851
No período que foi de 1844 a
1851 podemos constatar que prevaleceu entre os adventistas do 7º dia certa
euforia mística que não só afectou a igreja, mas principalmente o crescimento
da profeta, a qual acabou por enveredar numa atitude infantil e sofrer as suas
consequências. Todavia quem conhece o percurso da irmã White pode confirmar
como nela se operou o dom de profecia e como cresceu pouco a pouco rumo à
maturidade espiritual. Aqueles que pensam que os profetas não erram ou que tudo
o que diz é absoluta verdade, equivocam-se e acabarão ou por cair no fanatismo
ou repudiar os testemunhos. Vamos pois analisar esse período inicial e atribulado
em que se sustentaram doutrinas tão absurdas como aquela que afirmava que o
tempo da graça havia terminado e portanto qualquer esforço missionário era
descartado, ou que a segunda vinda de Cristo aconteceria em 1851.
Devemos enfrentar os problemas e explicá-los, em vez de enfiar a
cabeça na areia - qual avestruz - e incorrer no pecado de negar conscientemente
os factos. Muitos preferem não estudar estas coisas, mas Deus requer de nós
inquirição e honestidade. Incluso certos pastores mentem descaradamente quando
são confrontados com questões deste tipo, quando deveriam ser os primeiros em
conhecê-las para poder pastorear o rebanho, especialmente prestar ajuda àqueles
que crescem na fé e fazem perguntas que demandam sempre uma resposta
espiritual, bíblica e do Espírito de Profecia. Não enxergam a tremenda
responsabilidade que assumiram ao ser pastores, continuando a agir como apenas
tivessem que prestar contas de si mesmos, apesar de serem, de facto
(sublinhe-se) responsáveis por todo o rebanho que está entregue ao seu cuidado
- ora, isso é uma tremenda responsabilidade, uma obra exigente e sagrada, uma
tarefa que apenas poderemos descrever
com estas palavras de Jacob: terribilis est locus iste.
Depois do desapontamento de 22
de Outubro de 1844 prevaleceu entre a comunidade de Ellen certa expectação da
vinda de Cristo. Não entraremos aqui em discussão acerca do verdadeiro dia de
expiação em 1844, mas registe-se que é necessário reconhecer que houve um erro
na sua identificação, pois nesse ano o Yom Kipur ocorreu no dia 23 de Setembro.
Isto não é problemático e deve aceitar-se sem prejuízos ou preconceitos, como
também outros equívocos da mesma natureza. Seja como exemplo, a contagem dos
1260 anos desde ano 538 dC. De facto, em 527 Justiniano ascendeu ao poder, em
531 intensificou a sujeição de toda a igreja ao bispo de Roma (Papa), e em 533
conferiu-lhe o título de Rector Ecclesiae, pelo que nessa data o papismo
já estava estabelecido. E se contarmos desde esta data (533), chegamos até
1793, quando começam os 3 anos proféticos, os quais Ellen confundiu, ao
escrever: "Segundo o profeta, portanto, um pouco antes de 1798..." (CS,
p. 134), quando o texto diz exactamente o revés (depois): "Quando acabarem
o seu testemunho,..." (Ap. 11:7), quer dizer, depois dos 1260 anos
(segundo a cronologia tradicional, depois de 1798, mas 1793 está antes!). Ora,
nos Primeiros Escritos, a irmã White mostra claramente como a Deus,
essas cronologias exactas, de facto não lhe interessam muito, ao escrever:
"Vi o povo de Deus, com alegria, em expectação, aguardando o seu Senhor.
Mas era intento de Deus prová-los. Sua mão ocultou um engano na contagem dos
períodos proféticos. Aqueles que estavam esperando pelo seu Senhor não descobriram
este erro, e os homens mais doutos que se opunham ao tempo também deixaram de o
ver." (p.236).
Refere-se aos primeiros
cálculos, que levavam a 1843, em vez de a 1844, e muito certamente também ao
primeiro cômputo nesse ano (Março de 1844) e obviamente podemos considerar
também 22 de Outubro. Hoje sabemos que o dia exacto do Yom Kippur em
1844 foi 23 de Setembro, no Outono. E isto deveria assumir-se, sem qualquer
problema, até porque geralmente a serva do Senhor coloca a ênfase na estação,
mais do que no próprio dia e escreve: no Outono de 1844; evidentemente
também ela não sabia que 22 de Outubro não coincidia com o Dia da Expiação, em
1844. Além do mais, o Dia de Expiação em que vivemos é um processo que já leva
anos, e neste sentido conhecer o dia exacto do Yom Kippur em 1844, não
era coisa importante, mas sim fazer o povo passar pela prova do desapontamento
(essa era a intenção do Pai celestial, como se pode ler no texto supra).
Por outro lado, os eventos da economia da salvação (soteriologia), são
processos complexos, que não sucedem in abrupto, mas onde o elemento
temporal serve apenas de orientação (são marcos ao longo da sequência
profética), principalmente tratando-se de eventos celestiais (no céu, na
eternidade). Mas voltemos ao assunto principal.
Depois
do noivo tardar, como se entendeu, prevaleceu a ideia de que o clamor da
meia-noite tinha sucedido nessa ocasião e que o Esposo veio à "ceia das
bodas" em 22 de Outubro de 1844. O texto de Mateus reza: E saindo elas [as
virgens insensatas] para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas
entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta!" Mat. 25:10.
Sustentavam que isso se
cumpriu em 22 de Outubro de 1844, quando Cristo se levantou no santuário
celestial e passou do Lugar Santo ao Lugar Santíssimo, fechando-se assim a
porta da salvação para todos, excepto para "as virgens prudentes," ou
seja, os crentes adventistas que participaram no movimento de Guilherme Miller
em 1844 e continuavam fiéis. Jesus agora estava "encerrado" com seu
povo especial, e a sua tarefa consistia em prepará-los e purificá-los por meio
de uma série de provas e tribulações para que fossem dignos de receber o Seu
reino. Cristo estava ministrando só a Israel - os crentes adventistas.
Ensinavam que era tempo de
prova, o que envolvia certos pontos da verdade, como o sábado, e que portanto o
ministério de Cristo em favor da salvação dos perdidos tinha terminado. Ninguém
mais se salvaria. O tempo da graça havia chegado ao fim.
Em Dezembro de 1844, Miller
ainda escrevia que: "Ao advertir os pecadores e tentar despertar uma
igreja formal, cumprimos nossa obra. Em sua providência, Deus fechou a porta;
só podemos instar-nos mutuamente a ser pacientes." Advent Herald, 11 de dez. de 1844.
Em 19 de Fevereiro de 1845,
Miller escreve o seguinte: "Não vi nenhuma conversão legítima desde então
[22 de outubro de 1844]." Voice
of Truth, 19 de fev. de 1845.
Pelo final de 1848 muitos dos crentes na porta
fechada, incluindo Miller, haviam abandonado essa doutrina estranha e herética;
mas havia uns poucos adventistas que persistiam na doutrina da porta fechada.
Dentre os quais destacava-se Joseph Bates. Ele ensinava que haveria um período
de sete anos durante o qual Cristo provaria Seus filhos (baseava-se no ritual
das sete aspersões que pertencia ao Yom Kippur). Acreditava que no final
desse período, em 1851, aconteceria a segunda vinda de Cristo. Assim, em 1847
escreveu o seguinte: "A porta aberta de Paulo, então, era a pregação do
evangelho aos gentios. Feche-se esta porta, e a pregação do evangelho não terá
nenhum efeito. Isto é exactamente o que dissemos que ocorre. A mensagem do
evangelho terminou no tempo assinalado com a terminação dos 2300 dias [em
1844]; e quase todos os crentes honestos que estão observando os sinais dos
tempos o admitirão." Joseph
Bates, Second Advent Waymarks, 1847, pp. 97-110.
Também Tiago e Ellen White eram ardentes partidários
da doutrina da porta fechada. De facto, em 1845, Ellen recebeu visões (não
esqueça isto) que mostravam que a porta da salvação estava fechada. Lucinda
Burdick, também do Maine, diz: "Ouvi falar pela primeira vez da Srta.
Ellen G. Harmon (depois Sra. Ellen G. White) em princípios do Inverno (Janeiro
ou Fevereiro) de 1845, quando meu tio Josiah Little veio à casa de meu pai e
informou que havia visto uma tal Ellen Harmon no ato de ter visões que ela
assegurava receber de Deus. Meu tio disse que ela afirmava que Deus lhe havia
revelado que a porta da misericórdia tinha-se fechado para sempre, e que de
agora em diante não havia mais salvação para os pecadores. Isto me causou
grande inquietude e angústia mental, porque eu não havia sido baptizada e meu
jovem coração se preocupou muito pelo que sucederia com a minha salvação se a
porta da misericórdia estivesse realmente fechada."
Carta de Lucinda Burdick, Bridgeport, Connecticut, 26 de set. de 1908.
Ela recorda que: "Ellen estava tendo o que se conhecia como visões:
Dizia que Deus lhe havia mostrado em visão que Cristo Jesus se levantou no dia
décimo do sétimo mês de 1844 e fechou a porta da misericórdia; que havia
abandonado para sempre o trono mediador; que o mundo inteiro estava condenado e
perdido, e que jamais se salvaria qualquer outro pecador."
Miles Grant, An Examination of Mrs. Ellen White's Visions,
Boston: Advent Christian Publication Society, 1877.
Note que a mensagem de Ellen White era de que não restava qualquer obra por
fazer a favor dos não-adventistas. O mundo estava irremediavelmente perdido.
O ministro adventista Isaac
Wellcome recorda o seguinte: "Amiúde, estive em reuniões com Ellen G.
Harmon e Tiago White em 1844 e 1845. Várias vezes a sustive enquanto caía ao
solo - às vezes quando desmaiava durante uma visão. Ouvi-a relatar suas visões
destas datas. Várias foram publicadas em panfletos, dizendo que todos os que
não apoiavam o movimento de 1844 estavam perdidos, que Cristo havia abandonado
o trono da misericórdia, que todos os que seriam selados o haviam sido, e que
ninguém mais se arrependeria. Ellen e Tiago ensinaram isto por um ou dois anos.
Recentemente, em suas visões publicadas, chamadas 'Testemunhos,' suas visões
diferem amplamente, e contradizem suas visões anteriores directa e
patentemente." Ibid.
Não podemos desconsiderar
esses testemunhos da época. São deveras verdadeiros documentos e qualquer
investigador sério deve tê-los em linha de conta. Algumas mentalidades
tacanhas, incluindo pastores, têm o desplante de manifestamente ignorar os
factos. Ora, essa atitude é infantil, despropositada e desonesta. Sejamos
prudentes e sinceros, senão viramos pocilga de pecados, omissões, falso
testemunho, etc.
Em 1846, a irmã Ellen White
escreveu algo que importa recordar, afirmando que a porta da salvação estava
realmente fechada: "Enquanto em Exeter, Maine, ao estar reunida com Israel
Dammon, Tiago, e vários outros, e muitos deles não criam numa porta fechada. Eu
sofria muito no início da reunião. A descrença parecia estar por todo lado.
Havia uma irmã ali que era considerada muito espiritual. Tinha viajado e fora
uma poderosa pregadora pela maior parte do tempo durante vinte anos. Ela havia
sido verdadeiramente uma mãe em Israel. Mas uma divisão havia surgido no grupo
sobre a questão da porta fechada. Ela tinha tido grande misericórdia, e não
podia crer que a porta estava fechada. (Eu nada soubera da diferença entre
eles). A irmã Durben levantou-se para falar. Sentia-me muito, muito triste.
Minha alma parecia em agonia o tempo todo, e enquanto ela falava, caí de minha
cadeira ao chão. Foi então que tive uma visão de Jesus erguendo-se de Seu trono
de Mediador e indo para o Lugar Santíssimo, como o Noivo indo receber o Seu
reino. Todos estavam profundamente interessados na visão. Todos disseram que
era algo inteiramente novo para eles. O Senhor operou com grande poder
estabelecendo a verdade em seus corações. A irmã Durben sabia o que era o poder
do Senhor, pois havia-o sentido muitas vezes; e pouco tempo depois que eu caí,
ela foi atingida, e caiu ao chão, clamando para que Deus tivesse misericórdia
dela. Quando eu saí da visão, meus ouvidos foram saudados com o cântico e
clamores da irmã Durben em alta voz. A maioria deles recebeu a visão, e ficaram
estabelecidos quanto à porta fechada." Ellen White, Manuscript Releases, Vol. 5, p. 97
Muitos ainda não estavam convencidos. Por isso e sentindo a
responsabilidade, os White começaram a viajar para anunciar e convencer os
outros adventistas, como o Irmão Stowell, de que a porta da salvação estava
fechada. Ellen escreve: "O primeiro sábado que passamos em Topsham [24 de
Março] foi doce e interessante. Parecia que Jesus mesmo passava pelo meio de
nós e espalhava sua luz e sua glória sobre nós. Todos bebemos um grande sorvo
do poço de Belém. O Espírito veio sobre mim e fui arrebatada em visão. Vi
muitas coisas importantes, algumas das quais as descreverei antes de fechar
esta carta. Vi que o irmão Stowell, de Paris, vacilava sobre a questão da porta
fechada. Pareceu-me que devia visitá-los. Embora o lugar ficasse a cinquenta
milhas de distância e o caminho estivesse em condições muito más, cria que Deus
me daria forças para fazer a viagem. Fomos e encontramos a necessária força.
Não tinha havido uma reunião no lugar por mais de dois anos. Passamos uma
semana com eles. Nossas reuniões foram muito interessantes. Tinham fome da
verdade presente. Tivemos com eles reuniões livres e poderosas. Deus me deu
duas visões enquanto estive ali, para grande consolo e fortaleza dos irmãos e
irmãs. O Irmão Stowell foi firmado na doutrina da porta fechada e em
toda a verdade presente de que havia duvidado." Ibid., p. 93.
Leia outra vez o texto
atentamente.
Veja o que Otis Nichols
escreveu a William Miller em Abril de 1846 elogiando a Irmã White por suas
visões acerca da porta fechada: "Sua mensagem sempre era
acompanhada pelo Espírito Santo, e onde quer que fosse recebida como de parte
do Senhor, quebrantava e derretia seus corações como se fossem criancinhas, e
alimentava, consolava, e fortalecia os débeis, e os animava a apegar-se à fé, e
ao movimento do sétimo mês; e que nossa obra para a igreja nominal e o mundo
estava terminada, e o que restava fazer era a favor da casa da fé." DF
105, de Otis Nichols para Guilherme Miller, 20 de abril de 1846. (Extraída de The Early Years, Vol. 1, pp.
75-76).
Outro testemunho da época, provêm de John Megquier, que vivia em Poland,
Maine. Foi em sua casa que Ellen teve muitas das suas primeiras experiências
carismáticas. Ele disse: "Conhecemos bem a trajectória de Ellen G. White,
a vidente, enquanto esteve no estado do Maine. Algumas das primeiras visões que
teve ocorreram em minha casa de Poland. Dizia que Deus lhe havia dito em visão
que a porta da misericórdia se havia fechado, que não havia mais oportunidade
para o mundo, que ela podia dizer quem tinha manchas em sua veste, e que essas
manchas eram obtidas pondo em dúvida se suas visões eram do Senhor ou não.
Então ela dizia o que fazer, o que cumprir, para recuperar outra vez o favor de
Deus. Então Deus lhe mostrava, por meio de uma visão, quem estava perdido, e
quem estava salvo em diferentes partes do estado, segundo houvessem aceitado ou
rechaçado as visões." Ibid.
O sentimento e a certeza dessa
doutrina era tão forte que em 1847, Tiago publicou um documento intitulado A
Word to the Little Flock (Uma Palavra ao Pequeno Rebanho), no qual ele e
Ellen promoviam a doutrina da porta fechada. Nesse livrito, Ellen descreve uma
visão que muitos recordarão. O texto diz assim: "Enquanto orava no altar
da família, o Espírito Santo veio sobre mim, e parecia que estava sendo
transportada mais e mais para o alto, bem acima do escuro mundo. . . Ergui os
olhos, e vi um caminho recto e estreito que se estendia muito acima do mundo.
Nesse caminho o povo do Advento estava viajando para a cidade, que se situava
na sua extremidade. Tinham por detrás e no princípio do caminho uma luz
brilhante que um anjo me assegurou ser o clamor da meia-noite. Essa luz
brilhava ao longo do caminho inteiro e fornecia luz para os seus pés de modo a
que não tropeçassem. Se mantivessem os olhos fixos em Jesus, que estava à
frente deles, conduzindo-os para a cidade, estariam seguros. Mas logo alguns...
negaram grosseiramente a luz atrás deles e disseram que não fora Deus quem os
conduzira até tão distante. A luz por detrás desses extinguiu-se deixando-lhes
os pés em total escuridão, e tropeçaram e perderam de vista o marco e a Jesus,
e caíram para fora do caminho, mergulhando para o mundo escuro e ímpio em
baixo. Era tão impossível para eles alcançar o caminho novamente e seguir
para a cidade, como também para todo o mundo ímpio que Deus havia
rejeitado."
A Word to the Little
Flock, 1847.
Já leu isto em Primeiros Escritos, não é verdade? Compare e veja se
nota algo de diferente.
No mesmo documento, Tiago
acrescentou os seus próprios pensamentos sobre a doutrina da porta fechada. Escreveu
o seguinte: "Jesus está claramente representado na Bíblia em seus
diferentes caracteres, ofícios, e obras. Na crucifixão, foi o manso cordeiro
que foi morto. Desde a ascensão até que a porta se fechou em Outubro de 1844,
Jesus continuou com seus braços de amor e misericórdia abertos, pronto para
receber e advogar a causa de cada pecador que viesse a Deus por meio dele. No
dia décimo do mês sétimo de 1844, entrou ao Lugar Santíssimo, onde desde então
tem sido um misericordioso 'Sumo sacerdote sobre a casa de Deus.'" Ibid., pp. 1-2.
Lá por volta de 1848 muitos
começaram a discutir a veracidade da teoria, mas os White e Bates continuaram
insistindo e pregando a doutrina da porta fechada. Tiago iniciou uma nova
revista mensal intitulada Present Truth, onde o tema central era o da
porta fechada ou o fim da graça.
Ellen insistia com zelo
inaudito que o dia da salvação para os perdidos tinha terminado. Em Agosto,
Ellen publica na Present Truth o que o seu anjo acompanhante lhe tinha
dito: "Meu anjo acompanhante me convidou a buscar ver o trabalho pelas
almas dos pecadores, como antes existia. Olhei, mas não pude vê-lo, porque o
tempo da salvação deles havia passado." Present Truth, Ago.,
1849.
A pregação daquele tempo dizia que Jesus devia regressar no Outono de 1851.
Ora, em 1850 havia uma preocupação generalizada, a saber, que seus seguidores
somavam apenas centenas e eles necessitavam de 144.000 para o Outono do próximo
ano. Numa carta escrita a alguns amigos em Fevereiro, a irmã White anunciava
alguns novos conversos à mensagem adventista: "As almas estão encontrando
a verdade por toda parte aqui. São os que não ouviram a doutrina adventista, e
alguns deles são os que saíram a encontrar o Esposo em 1844, mas que desde esse
tempo foram enganados por falsos pastores até ao ponto de não saberem nem onde
estavam nem no que criam." Carta 4, 1850, pp. 1, 2.
Eis aí o primeiro indício
de que os que não eram parte do movimento de 1844 podiam salvar-se. Note
todavia como a irmã White cuida em dizer que essas pessoas eram cristãos que
nunca haviam ouvido falar da doutrina adventista. Nenhuma esperança para os não
cristãos e os cristãos que tinham rejeitado a mensagem de Miller de 1844.
Em Abril de 1850 debateu-se
o tema da conversão e salvação dos filhos dos santos. Tinham-se passado quase
seis anos desde o grande desapontamento, e muitas crianças nasceram entretanto.
Poderiam salvar-se essas crianças apesar de não terem participado do movimento
de 1844? A questão foi decidida na revista Present Truth: "Como
elas estavam então (em 1844) num estado de inocência, tinham tanto direito a
que seus nomes fossem registrados no peitoral do juízo como os que haviam
pecado e tinham sido perdoados; portanto, estão sujeitos à presente intercessão
de nosso grande sumo-sacerdote." Present Truth, abril, 1850.
Em Maio de 1850 Tiago escreveu: "Mas o pecador, a quem Jesus havia
estendido seus braços todo o dia, e que havia desprezado a oferta da salvação,
ficou sem advogado quando Jesus saiu do Lugar Santo e fechou essa porta em
1844." Present Truth, maio, 1850.
Particularmente interessante foi o que sucedeu pelo
final de 1850. Herman Churchill, um
homem que havia sido inconfesso em 1844 foi admitido na Igreja, contrariando a
teoria. A decisão de Herman Churchill de unir-se aos crentes adventistas em
Agosto de 1850 causou tamanha comoção entre os crentes da porta fechada, que
Tiago escreveu estupefacto: "Um irmão (Herman Churchill), que não havia
estado no Advento, e não havia feito profissão de religião até 1845,
mostrava-se forte e claro na verdade inteira. Nunca se opusera ao Advento, e é
evidente que o Senhor lhe havia estado guiando, embora sua experiência não
tinha sido como a nossa. Os que, como ele, vêm para a verdade à hora undécima,
podem esperar grandes provas." Tiago White, AR, Ago., 1850, Early Years, p.
191.
Notemos que se trata do primeiro converso, em quase
seis anos depois de 1844. Os adventistas ficaram deveras surpreendidos de que
alguém, que não era parte do movimento de 1844, estivesse interessado em
unir-se a eles. Naquele tempo isso foi qualquer coisa de inédito. Talvez seja
conveniente citar aqui a George Butler, presidente da Associação Geral. Ele
escreveu na Review and Herald de 7 de abril de 1885 sobre a conversão de
Churchill: "O seu foi um dos primeiros casos de conversão do mundo à
verdade presente, que ocorreram depois de 1844... Lembro-me bem quando chegou a
Waterbury, Vermont, e assistiu às reuniões na casa de meu pai, onde uns poucos
se reuniam de quando em quando. A princípio, ficaram bastante surpresos de que
alguém que havia sido incrédulo manifestasse interesse na doutrina adventista.
Não foi rejeitado, mas bem acolhido. Era fervoroso e zeloso, e ao discernir sua
sinceridade, aceitaram-no como a um verdadeiro converso."
George Butler, Review and
Herald, 7 de Abril de 1885.
Agora bem, em 1851 começou a ser mais e mais evidente
para todos, que Cristo não iria regressar nesse ano. Por fim, não houve mais
remédio do que repudiar a crença estapafúrdia e esdrúxula que até aí haviam
defendido com tanto empenho.
Ellen havia caído na trampa
e com a infantilidade de uma criança subscreveu precipitadamente essa doutrina
herética. Mas Ellen ainda não havia crescido, não tinha experiência na
utilização do dom que desabrochava nela. Com o tempo foi caminhando rumo à
maturidade e já via as coisas não como menina mas com certo sentido de adulta;
além do mais sabemos que na época as reuniões eram barulhentas, com muitas
manifestações desorientadas e atrevidas, excessos e extremismos próprios da
infantilidade espiritual (onde se gritava, andavam de gatas, proferiam sons e
imitações esquisitas). Sobre isto falaremos abaixo.
Ellen teve então uma
atitude sensata e mudou-se de região. Assim, em meados da década de 1850, os
White foram para o Michigan. Lucinda Burdick escreve acerca da perda da
influência deles na área da Nova Inglaterra: "Pouco tempo depois disso, a
confiança e o interesse nesse fanático casal desapareceu, pois as visões, não
só eram infantis e vazias de sentido, como absolutamente contraditórias... Havendo
perdido tanto sua influência quanto seu campo de trabalho no Maine, logo
partiram para o oeste, onde tiveram êxito em despertar considerável interesse e
levantar um grande número de seguidores por meio de seus ensinos relativos ao
sábado." "Carta de Lucinda Burdick", Bridgeport, Connecticut, 26
de set. de 1908.
Deveras os crentes não
souberam encaixar tanta insensatez e tomaram novo rumo. Não perceberam que
incluso os dons espirituais estão sujeitos ao crescimento, ao desenvolvimento.
Que diria Paulo dessas coisas? Leia o que se disse acerca do que aconteceu em
Corinto.
A coisa agora complica-se,
pois Tiago influenciou Ellen e sub-repticiamente exerceu o direito do
escrutínio revisando e retendo o que era bom dos escritos e experiências
visionárias anteriores. Contudo cometeu a insensatez e a desonestidade de o
fazer às ocultas, e tão bem o realizou, que, como veremos abaixo, mais tarde o
presidente George Butler incorre num erro gravíssimo mas sem ter culpa no
cartório. Tiago revisou todos os artigos de sua esposa e eliminou as partes
objectáveis que tratavam da doutrina da porta fechada. Acabou com a publicação
da revista Present Truth e iniciou uma nova, chamada "Advent
Review and Sabbath Herald." Voltou a imprimir a versão das visões de
Ellen em 1851 num folheto de 64 páginas intitulado A Sketch of the Christian
Experience and Views of Mrs. E. G. White, mas já amputado, manipulado e
depurado - o que não está mal em si mesmo, senão o modo fraudulento em que o
fez, mascarando e enganando conscientemente como se verá.
Isso não foi do agrado de
todos os irmãos; e quando saiu o novo folheto, faltava 19% do texto original.
Muitos membros horrorizados, protestaram e demandaram explicações, mas
infelizmente só responderam mentiras (falsas promessas). A irmã White descreve
como Tiago acalmou a perigosa crise: "Certa ocasião nos primeiros dias da
mensagem, o Pai Butler e o Ancião Hart se sentiram confusos em relação com os
testemunhos. Muito angustiados, gemeram e choraram, mas durante algum tempo não
quiseram dar as razões de sua perplexidade. Todavia, pressionados para que
explicassem a causa de sua conversação e comportamento sem fé, o Ancião Hart se
referiu a um pequeno folheto que havia sido publicado como as visões da Irmã
White, no qual, disse ele que sabia com certeza, que algumas visões não tinham
sido incluídas. Diante de um grande auditório, estes irmãos falaram
vigorosamente dizendo que haviam perdido a confiança na obra. Meu esposo
entregou o folhetinho ao Ancião Hart, e lhe pediu que lesse o que estava
impresso na página do título. 'A Sketch of the Christian Experience and Views
of Mrs. E. G. White' [Um Bosquejo da Experiência Cristã e Visões da Sra. E. G.
White], leu. Por um momento, houve silêncio, e a seguir meu esposo explicou que
havíamos estado muito destituídos de meios económicos, e que a princípio só
pudemos imprimir um pequeno folheto, e prometeu aos irmãos que quando
levantássemos os meios suficientes, as visões seriam publicadas mais
completamente em forma de livro. O Ancião Butler ficou profundamente comovido,
e depois de que se havia dado a explicação, disse: inclinemo-nos diante do
Senhor.' Seguiram-se orações, pranto, e confissões, como raras vezes temos
ouvido. O Pai Butler disse: 'Irmão White, perdoe-me; temia que nos estivesse
ocultando algo da luz que devíamos ter. Perdoe-me, Irmã White.' Então o poder
de Deus desceu sobre a reunião de uma maneira maravilhosa." Mensagens
Escolhidas, Vol. 1, p. 53.
O problema é que Tiago
nunca cumpriu a sua promessa de imprimir todas as visões quando tivessem mais
dinheiro disponível. Não só mentiu ele, mas induziu Ellen a mentir, pois ela
certamente também acreditou nas intenções de Tiago. A verdade é que nunca mais
se esclareceram essas questões e se não tivesse sido pelos acontecimentos da
década de 1880, ainda hoje estariam ocultos e enterrados forever.
Ainda sobre a porta fechada
lemos em carta de 2 de outubro de 1848 escrita por Tiago ao casal Hasting:
"Os principais pontos sobre que nos fixamos como verdade presente são o
sábado do sétimo dia e a porta fechada". Confirma-o também Joseph Bates em
1850 no livrito An Explanation of the Typical and Anti-Typical Sanctuary, by
the Scriptures: "O sábado e a porta fechada constituem, pois, a
'Verdade Presente' desta terceira mensagem angélica". (p.16).
Sumiram todos os escritos
inoportunos de Ellen White publicados no Word to the Little Flock e Present
Truth. Por muitos anos a Igreja permaneceu na ignorância dessas coisas. Tão
bem feito tinha sido a trafulhice (pelo Tiago), que ninguém questionava nada,
salvo uns quantos.
Assim, em 1866, dois
ministros adventistas de Iowa imprimiram um livro polémico. Isto causou uma
divisão na igreja de Iowa e esses ministros foram criticados severamente pelos
White (notem que escrevemos no plural, pois Tiago sempre influenciou Ellen).
A discussão começou a
aquecer e em princípios da década de 1880, o presidente da Associação Geral,
George Butler pretendia encarar o tema honestamente e resolver a questão de uma
vez por todas. O ministro adventista D. M. Canright conta como Butler se
acercou dele e de Tiago White e falaram acerca de voltar a publicar os
primeiros escritos da Sra. White: "Por esse tempo Butler era presidente da
Associação Geral, presidente da Associação Publicadora, etc. Um dia em 1880, veio
ao escritório onde estávamos o Ancião Smith e eu. Com muita alegria, disse:
'Esses rebeldes do Oeste dizem que suprimimos algumas das primeiras visões da
Irmã White. Vou fechar-lhes a boca, voltando a publicar tudo o quanto ela
escreveu naquelas visões O Pr. White se inclinou para a frente, baixou bastante
a voz, e disse: 'Butler, é melhor ir um pouco devagar nisso.' Foi tudo. Não
entendi o que significava essa advertência, tampouco Butler. Pouco depois
falecia o Pr. White - em Agosto de 1881. Butler então seguiu adiante com o
projecto, e em 1882 emitiu a edição actual de Primeiros Escritos."
D.M. Canright, The Life of
Ellen White, cap. 8, 1919.
Note a advertência de Tiago, meia velada e nada
explícita. Deveras, Tiago calou-se e manteve-se na retaguarda. Butler animado
de um bom sentimento foi em frente e publicou Primeiros Escritos para
silenciar os críticos de Ellen White. Depois que publicou o livro, Butler
escreveu um artigo anunciando-o nos seguintes termos: "Estes são os
exactos primeiros escritos da Irmã White publicados... Muitos desejaram
grandemente ter em sua posse tudo o que ela escreveu para publicação...
Tão forte era o interesse em ter esses primeiros escritos reproduzidos que há
vários anos a Associação Geral recomendou por voto que fossem republicados. O
exemplar sob consideração é o resultado desse interesse. Vem ao encontro de um
desejo há muito sentido... Os inimigos desta causa, que não pouparam esforços
por despedaçar a fé de nosso povo nos testemunhos do Espírito de Deus e no
interesse manifesto pelos escritos da Irmã White, tiraram o maior proveito
possível do fato de que seus primeiros escritos não estavam disponíveis. Eles
falaram muitas coisas a respeito de termos "suprimido" esses
escritos, como se nos envergonhássemos deles. Alguns tentaram fazer parecer que
haveria algo objectável nesses primeiros escritos, que temíamos que viessem à
luz do dia, e que cuidadosamente os mantivemos às ocultas. Essas insinuações
mentirosas serviram ao propósito de enganar algumas almas desprevenidas. Eles
agora aparecem em seu carácter verdadeiro com a publicação de vários milhares
de exemplares deste livro "suprimido", sobre o qual nossos inimigos
insinuam termos estado ansiosos por ocultar. Alegavam estarem muito ansiosos
por obter esses escritos para revelar seu suposto erro. Agora eles têm a
oportunidade disso." Advent Review, 26 de dez. de
1882.
Como George Butler disse
mais acima, o livro foi escrito para silenciar os críticos de Ellen White.
Butler não sabia da veracidade das acusações dos críticos, pois Tiago não teve
a honestidade de contar para ele o que havia feito. Butler acreditava que
estava verdadeiramente a publicar os primeiríssimos escritos (daí a escolha do
título). Também no prefácio, os publicadores afirmam: "Tem-se despertado
um grande interesse em todas as suas obras, especialmente nestas primeiras
visões, e o clamor para que se publique uma segunda edição é imperativo."
" Nenhuma alteração da obra original foi feita na edição actual, excepto o
emprego ocasional de uma palavra nova, ou uma mudança na construção de alguma
sentença, para melhor expressar a ideia, e nenhuma porção da obra foi omitida.
Nenhuma sombra de mudança foi feita em qualquer ideia ou sentimento da obra
original, e as alterações verbais foram realizadas sob as vistas da autora, e
com sua plena aprovação".
Esta trafulhice carente de
intencionalidade por parte de Butler, envolve hipocrisia de Ellen, quase
certamente induzida pelo esposo Tiago, mas Ellen também foi responsável porque
sabia o que se tinha passado, e em vez de pedir ao marido explicações,
perguntando-lhe porque não havia feito o que prometeu (ut supra), anuiu
e foi conivente (de facto, uma marioneta). O livro causou controvérsia, como
não seria de esperar outra coisa.
Imediatamente depois de que
se publicou Primeiros Escritos, o Pr. A. C. Long publicou um tratado de
dezasseis páginas intitulado "Comparison of the Primeiros Escritos of
Mrs. White with Later Publications" (Comparação dos Primeiros Escritos
da Sra. White com Publicações Posteriores). O Pr. Long mostra, linha após
linha, que partes dos escritos da irmã White foram eliminadas. Os Primeiros
Escritos contém apenas os escritos de Ellen White tomados do folheto
publicado por Tiago em 1851 (uma trafulhice) e intitulado "Experience and
Views." A publicação de 1851, repetimos, não continha os primeiros
escritos de Ellen White. A publicação de 1851 suprime todas as embaraçosas
afirmações acerca da porta fechada. Na realidade, os primeiros escritos foram A
Word to the Little Flock e os artigos de Present Truth publicados
entre 1847 e 1850. Essa é a verdade. Tudo o resto, é preciso admiti-lo, são
falcatruas, mentiras, omissões, manipulação, fraude, vigarice e desonestidade.
Considere-se este exemplo
(as palavras suprimidas estão em maiúsculas): "Enquanto orava no altar da
família, o Espírito Santo veio sobre mim, e parecia que estava sendo
transportada mais e mais para o alto, bem acima do escuro mundo... Ergui os
olhos, e vi um caminho recto e estreito que se estendia muito acima do mundo.
Nesse caminho o povo do Advento estava viajando para a cidade, que se situava
na sua extremidade. Tinham por detrás e no princípio do caminho uma luz
brilhante que um anjo me assegurou ser o clamor da meia-noite. Essa luz
brilhava ao longo do caminho inteiro e fornecia luz para os seus pés de modo a
que não tropeçassem. Se mantivessem os olhos fixos em Jesus, que estava à
frente deles, conduzindo-os para a cidade, estariam seguros. Mas logo alguns...
negaram grosseiramente a luz atrás deles e disseram que não fora Deus quem os
conduzira até tão distante. A luz por detrás desses extinguiu-se deixando-lhes
os pés em total escuridão, e tropeçaram e perderam de vista o marco e a Jesus,
e caíram para fora do caminho, mergulhando para o mundo escuro e ímpio em
baixo. ERA TÃO IMPOSSÍVEL PARA ELES ALCANÇAR O CAMINHO NOVAMENTE E SEGUIR PARA
A CIDADE, COMO TAMBÉM PARA TODO O MUNDO ÍMPIO QUE DEUS HAVIA REJEITADO. Logo
ouvimos a voz de Deus como muitas águas..." Primeiros Escritos, & Word for the Little Flock).
Imaginem a surpresa de Butler. Agora ele entendia a
advertência hipócrita (velada) de Tiago o falsificador e o silêncio de Ellen.
A irmã Ellen, em 1884
incorre no erro de escrever aquilo que alguém lhe sussurrou aos ouvidos e mente
descaradamente: "Durante algum tempo após o desapontamento de 1844 eu de
fato mantive, em comum com o corpo de adventistas, que a porta da misericórdia
fora então para sempre fechada para o mundo. Esta posição foi assumida antes de
minha primeira visão ter-me sido dada. Foi a luz concedida a mim por Deus que
havia corrigido o nosso erro, e nos capacitou a ver a verdadeira posição."
Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, Vol. 1, p. 63.
A verdade é que Ellen teve
visões antes. E isso qualquer adventista ilustrado no Espírito de Profecia e na
História da Igreja o sabe. Ellen estava a mentir (o que não choca quando
consideramos que era mortal e pecadora e portanto sujeita a "levar a
sardinha para a sua brasa").
Afirma que deixara de assim pensar por divina iluminação, e
isso é possível, mas não constitui motivo para negar as visões anteriores. No
trecho omitido de sua primeira visão (como se leu) Ellen viu que Deus
tinha "rejeitado todo o mundo ímpio", além dos adventistas que
"tropeçaram" ao renunciarem a sua fé no nascente movimento.
Igualmente já se citou aqui textos daquele tempo, onde Ellen
confirma o contrário do que aqui nos diz. Quem a manipulava? Dado que existem
provas (veja ut supra) que Tiago influiu nessa decisão, cabe ponderar
certa manipulação de Ellen (nesse e noutros assuntos). Acima vimos como Tiago
tinha prometido repor o material em falta, mas isso foi coisa que ele jamais
fez. Por
chocante que possa parecer, Ellen foi de facto manipulada e o que escrevia
controlado.
Recentemente, um estudante de um Seminário Adventista fez uma
descoberta espantosa sobre o famoso caso Israel Dammon, que dissipou qualquer
dúvida sobre a sua veracidade. Vejamos os factos que lançam nova luz sobre os
primórdios do adventismo. Para a discussão crítica da credibilidade e fidelidade
deste tema leia The Camden Vision Genuine de Gilbert Valentine (Anexo
1). Aconteceu em Março de 1986. Bruce Weaver, estudante de pós-graduação do
Seminário da Universidade Andrews descobriu um informe jornalístico (no Piscataquis
Farmer) acerca da detenção e julgamento de Israel Dammon, um dos
adventistas e amigos de Ellen White. Ele descobriu que o artigo do jornal
divergia da versão dada pela irmã White. Ellen tinha dado uma perspectiva
adaptada dos acontecimentos, uma leitura parcial, omitindo muitos detalhes. No
meio de tanta confusão é certo que não presenciou todos os detalhes. É
igualmente possível que propositadamente tenha calado muitos pormenores. Vamos
reconstituir os factos.
Regressamos a 1845. Logo após
o desapontamento gerou-se entre os adventistas grande confusão religiosa, o
fanatismo e o culto emocional. O culto era principalmente doméstico (em lares
privados), e as reuniões incluíam fenomenologia "carismática", onde
se destacavam o "ósculo santo" como saudação, gritos latidos e cantos
em voz alta, prostrações físicas (rebolar-se pelo chão, gatinhar, dar pulos,
arrastar-se, etc.), baptismos múltiplos por imersão, visões (principalmente
eram as mulheres que as experimentavam).
Sucedeu que no sábado, 16 de
Fevereiro, Ellen chega à cidade, procedente de uma reunião em Exeter, no Maine,
onde suas visões ajudaram a convencer a Irmã Durben de que aceitasse a doutrina
da porta fechada (como já se referiu acima). Na tarde de sábado, os crentes
adventistas reuniram-se na casa de Ayer em Atkinson, Maine. Israel Dammon
dirigiu a reunião. Estavam presentes as visionárias Dorinda Baker e Ellen
Harmon. O Pr. Tiago White também estava presente. O que aconteceu nessa tarde
de sábado?
Privilegiamos in limine
o depoimento de William Crosby, um advogado de 37 anos, o qual no tribunal dois
dias mais tarde disse: "Às vezes falavam todos de uma vez, gritando a todo
pulmão... uma mulher jazia de costas no solo, com uma almofada sob a cabeça; de
quando em quando se levantava, e contava uma visão que lhe havia sido
revelada... Foi a reunião mais ruidosa a que jamais assisti - não havia ordem
nem regularidade, nem nada que se parecesse com alguma outra reunião que eu
tivesse frequentado... " Piscataquis
Farmer, 7 de mar. de 1845 (in Bruce Weaver, Adventist Currents,
"The Arrest and Trial of Israel Dammon", Vol. 3, No. 1, 1988).
Outro testemunho é o do
diácono Tiago Rowe: "Estava na casa de Ayer por um pouco no domingo
passado à noite ... Fui jovem, e agora sou velho, e em todos os lugares em que
estive, nunca vi tal confusão, nem sequer numa farra de bêbados." Ibid.
Loton Lambert, que esteve
presente na reunião deu o seguinte testemunho juramentado no tribunal:
"Estavam cantando quando eu cheguei - depois de cantar sentaram-se no solo
- Dammon disse que uma irmã tinha uma visão para contar - então uma mulher no
solo relatou sua visão. Dammon disse que todas as denominações eram de ímpios -
mentirosos, libertinos, assassinos, etc.; também criticou a todos os que não
eram crentes como ele. Ordenou que saíssemos. Ficamos. Dammon e outros chamavam
Imitação de Cristo à mulher que jazia no solo relatando visões. Dammon nos
chamou de porcos e diabos, e disse que se fosse o dono da casa nos expulsaria -
a mulher a quem chamavam Imitação de Cristo disse à Sra. Woodbury e a outros
que deviam abandonar todos os seus amigos ou ir para o inferno. Imitação de
Cristo, como a chamavam, permanecia no solo um pouco, depois se erguia, chamava
a alguém, e dizia que tinha uma visão que contar-lhe, o que então fazia. Havia
uma garota que diziam dever ser baptizada naquela noite ou iria para o inferno.
Ela chorava amargamente, e queria ver primeiro a mãe; disseram-lhe que tinha
que abandonar sua mãe ou iria para o inferno - uma voz disse: Deixem que se vá
para o inferno. Ela finalmente foi baptizada. Imitação de Cristo contou sua
visão a uma prima minha, de que devia ser baptizada naquela noite ou iria para
o inferno - ela objectou porque já havia sido baptizada uma vez. Diziam que
Imitação de Cristo era uma mulher de Portland." Ibid.
Tiago Ayer, confirmou ante o
tribunal que a visionária a quem Lambert se referia como "Imitação de
Cristo" era Ellen Harmon: "Vi a mulher com uma almofada sob a cabeça
- o seu nome é Srta. Ellen Harmon, de Portland. Não a ouvi nem a qualquer outra
pessoa dizer algo acerca de Imitação de Cristo." Ibid.
A outra visionária era Dorinda
Baker, a qual tinha uma saúde muito precária (como Ellen). A testemunha Joshua
Burnham diz acerca dela:"Conheço a Srta. Dorinda Baker desde que ela tinha
cinco anos - tem bom carácter - agora tem vinte e três ou vinte e quatro anos
de idade. É uma moça muito doentia, seu pai gastou U$1.000 com médicos. Eu
estive na reunião do sábado à noite - foi convocada para que a jovem contasse
suas visões." Ibid.
Tão desmesurado era o ruído, o
caos e o barulho infernal da reunião, que a vizinhança ofendida com o evento
decidiu chamar as autoridades para que a interrompessem. Vamos ler o que
escreveu sobre isso a irmã Ellen White, quer dizer, a sua versão do que sucedeu
quando o delegado chegou para deter a Israel Dammon: "... enquanto eu
falava, dois homens espiavam pela janela. Estávamos seguros de suas intenções.
Entraram e passaram rapidamente a meu lado até alcançar o Ancião Damman [sic].
o Espírito do Senhor posou sobre ele, e sua força desapareceu, e caiu ao solo
indefeso. O oficial exclamou: 'Em nome do estado do Maine, agarrem este homem!'
Dois homens o agarraram pelos braços, e outros dois pelos pés, e tentaram
tirá-lo da habitação arrastado. Só o moveram uns poucos centímetros e logo saíram
da casa. O poder de Deus estava nessa habitação, e os servos de Deus, com seus
semblantes iluminados por sua glória, não ofereciam resistência. Os esforços
para tirar o Ancião D. se repetiam com o mesmo resultado. Os homens não podiam
suportar o poder de Deus, e era um alívio para eles sair da casa. O número
deles aumentou até doze, e ainda o Ancião D. foi retido pelo poder de Deus por
uns quarenta minutos, e nem sequer toda a força daqueles homens podia movê-lo
do piso onde jazia indefeso. No mesmo momento, todos sentimos que o Ancião D.
tinha que ir-se, que Deus havia manifestado seu poder para sua glória, e que o
nome do Senhor seria glorificado mais se deixássemos que fosse levado dentre
nós. E aqueles homens o levantaram tão facilmente como se levanta uma criança,
e o levaram." Ellen
White, Spiritual Gifts, Vol. 2, pp. 40-41, 1860.
Ellen entendeu tudo como uma impressionante intervenção sobrenatural, mas é
bem provável que na altura, no meio da confusão, e estando ela própria baixo
influências espúrias entende-se as coisas desse modo. Ela não foi uma
testemunha idónea do sucedido, pois, repetimos, estava na altura influenciada
pelo caos e a desordem ali instaladas. O seu dom espiritual fora abafado e
descontrolada repetia coisas insensatas.
Devemos compreender que Ellen
estava então na mamadeira espiritual, era uma criancinha inexperiente, que
começava a dar os primeiros passos. Envolvida num clima emocionalíssimo e
descontrolado é perfeitamente admissível que tenha incorrido em extremismos e
delírios extravagantes. Aliás, quando lemos pela primeira vez os testemunhos
idóneos daqueles que testemunharam perante o tribunal da época, imediatamente
percebemos que se tratava de uma situação muito semelhante ao que sucedera nos
dias de Paulo com os crentes de Coríntio. Se não entendermos que até mesmo o
exercício dos dons dependem da maturidade dos sujeitos que os experimentam, que
se exige um auto-controle, certo domínio e portanto aprendizagem, como vamos
entender aquilo que Paulo disse sobre situação similar aos coríntios? Quando os
críticos explicarem que outra coisa disse Paulo, nós escutaremos atentamente. É
lamentavelmente certo que a maioria dos crentes e até (e isto sim que arrepia!)
muitos pastores (mas mesmo muitos) são absolutamente ignorantes destas coisas
ou incapazes desta análise teológica, e contudo incorrem no erro de omitir,
esconder, suprimir, negar, solapar, sonegar e deturpar os factos, mas
semelhante atitude é infantil, despropositada, desonesta, tacanha, ignorante,
desmiolada e esdrúxula. O grande problema reside numa apreciação incorrecta dos
dons, os quais são encarados como algo de sobrenatural, de divino, do outro
mundo. Ora, não é nada de isso. Existe o elemento divino mas através do
instrumento humano e pecador, limitado e patológico (patos). Até Jesus
teve de crescer em sabedoria e conhecimento, adquirir a experiência da vida,
experimentando assim o desenvolvimento espiritual. Porquê Jesus apenas levou a
cabo o seu ministério quando tinha aproximadamente 33 anos? E Jesus viveu sem
pecado. Quanto mais uma pecadora como Ellen!
O conselho do apóstolo é para
reter o bem e que a Igreja julgue, exerça o escrutínio à luz da Bíblia.
Lamentavelmente essa tarefa importantíssima tem sido mal assumida pela Igreja
Adventista, a qual tem cometido todo o tipo de atropelos e agido como um
hipócrita (com letra grande) sempre que transparece uma coisa e faz outra,
nomeadamente a manipulação dos assuntos, doutrinas, textos (pois tudo isso ela
já praticou). Para não falar das suas duas caras, quando perante o mundo
evangélico se transfigura, para dar uma outra face de si mesma, não importando
sequer que tal implique a traição doutrinal. Neste contexto, que fez a Igreja
com as doutrinas da natureza de Cristo e da expiação? Enrolar o mundo
evangélico e ocultar dos crentes adventistas essas coisas. Nós até admitimos
que as doutrinas possam ser analisadas e superadas, mas façam-no em diálogo com
os crentes, com o seu conhecimento e jamais às escondidas. O pecado que isso
envolve é enormíssimo. Foi cristão o modo como trataram o Pastor Andreasen? Um
adventista dedicado, um teólogo benquisto e reconhecido que não merecia o
desprezo que lhe deram, por se manter fiel a doutrinas reconhecidamente
adventistas. Que respondam os responsáveis, esses fariseus hipócritas que
frequentam a "sinagoga" em dia de Sábado, que falam de Jesus e dos
mandamentos, mas na prática são pocilgas imundas!
O testemunho de Joseph
Moulton, o delegado encarregado de prender Dammon, também é digno de nota. Ele
disse em tribunal: "Quando fui prender o prisioneiro, fecharam-me a porta.
Vendo que não podia alcançá-lo desde fora, forcei a porta. Cheguei até onde
estava o prisioneiro, o tomei pela mão, e lhe informei a que viera. Várias
mulheres saltaram e o rodearam - elas se agarraram a ele, e ele a elas. Tão
grande foi a resistência que eu e três ajudantes não pudemos tirá-lo. Permaneci
na casa e pedi mais ajuda; depois que esta chegou, fizemos uma segunda
tentativa, com o mesmo resultado - novamente pedi reforço - depois que chegou,
os vencemos e o tiramos detido. Tanto os homens como as mulheres ofereceram
resistência. Não posso descrever o lugar - era uma gritaria constante." Piscataquis
Farmer, 7 de mar. de 1845 (citado in Bruce Weaver, Adventist Currents,
"The Arrest and Trial of Israel Dammon", Vol. 3, No. 1, 1988).
O testemunho juramentado de
Moulton indica claramente que foram a mulheres e os homens que saltaram para
ajudar a Dammon e o retiveram - e não o poder de Deus como entendeu Ellen. E os
testemunhos são unânimes nesta apreciação, pelo que não restam dúvidas sobre o
que deveras ocorreu. Se fosse o poder de Deus a cena não teria acabado como
terminou.
Depois de passar o fim de
semana na cárcere, Dammon compareceu a juízo na segunda-feira. A irmã White diz
o seguinte acerca de Dammon no julgamento: "Na hora do julgamento, o
Ancião D. estava presente. Um advogado ofereceu seus serviços. A acusação
contra o Ancião D. era de que havia alterado a ordem. Muitas testemunhas foram
trazidas para sustentar a acusação, mas em seguida seus testemunhos foram
desmentidos pelos dos conhecidos do Ancião D. que estavam presentes e que
também foram chamados a depor. Havia muita curiosidade por saber no que criam o
Ancião D. e seus amigos, e se lhes pediu para apresentar um resumo de sua fé.
Então ele lhes falou em tom claro de sua crença a partir das Escrituras. Também
sugeriu-se que cantassem algum de seus hinos, e a ele foi pedido que cantasse
um. Havia um bom número de vigorosos irmãos presentes que o haviam apoiado
durante o julgamento, e o acompanharam a cantar 'When I was down in Egypt's
land, I heard my Savior was at hand.' [Quando eu estava na terra do Egito, ouvi
que meu Salvador estava perto].Foi indagado ao Ancião D. se tinha uma esposa
espiritual. Ele respondeu que tinha uma esposa legal, e que podia dar graças a
Deus de que ela havia sido uma mulher muito espiritual desde que a havia
conhecido. Creio que as custas do processo lhe foram cobradas e foi posto em
liberdade." Spiritual
Gifts, Vol. 2, pp. 41-42, 1860.
O jornal Piscataquis Farmer apresenta uma versão do processo um
pouco diferente: foi Dammon que "pediu permissão" para cantar.
Durante a etapa de sentença do juízo, foi permitido a Dammon falar em sua
defesa. Note o que ele disse e sublinhe bem as crendices daquela época (que
foram igualmente as de Ellen White como já se viu): "Ele [Dammon]
argumentou que o dia de graça havia passado, que o número de crentes era
reduzido, mas que havia muitos ainda, e que o fim do mundo se daria dentro de
uma semana. Depois de consultar, o tribunal sentenciou ao prisioneiro passar
dez dias na Casa de Correção..." Piscataquis Farmer, 7 de mar. de
1845.
Israel Dammon, pelo final de
1846 abandonou sua crença na porta fechada: "Estivemos relacionados com o
Sr. e a Sra. White, e por um tempo tivemos confiança nas visões dela, mas por
muitos anos não a temos tido em absoluto. Quando vimos que se contradiziam
entre si, renunciamos a elas por completo, e nos aplicamos à Palavra de Deus.
Passaram-se vinte anos ou mais desde que estivemos associados com a Sra. White.
Recordamos perfeitamente, porém, que suas primeiras visões ou sua primeira
visão foi contada tanto por ela mesma como por outros (especialmente pela Sra.
White) em relação com a prédica da 'porta fechada,' e a fomos respaldar.
Enquanto estava sob essa influência, e pregando as visões, ela, em visão, viu
N. G. Reed e I. Dammon em estado imortal, coroados, no reino. Depois disso, ela
os viu finalmente perdidos. Como podiam ser verdade as duas coisas? Penso que
uma era tão verdade quanto a outra, e que Deus nunca lhe disse tal coisa." Miles Grant, An
Examination of Mrs. Ellen White's Visions, Boston: Advent Christian
Publication Society, 1877.
Ellen White não menciona que
ele usou a "porta fechada" e o iminente regresso de Cristo como parte
de sua defesa. Dammon foi encarcerado. Ellen não refere nada acerca da
gritaria, das prostrações físicas, das demonstrações de humildade voluntária
(arrastar-se, latidos), etc. Sabemos porém que esse era o ambiente das reuniões
naqueles dias. Lucinda Burdick foi testemunha de muitas dessas reuniões ou
cultos. Ela diz-nos: "Quando os conheci pela primeira vez [Ellen e Tiago
White], eram exageradamente fanáticos - costumavam sentar-se no solo em vez de
em cadeiras, engatinhar pelo piso como criancinhas. Tais extravagâncias eram
consideradas sinais de humildade." Miles Grant, An
Examination of Mrs. Ellen White's Visions, Boston: Advent Christian
Publication Society, 1877.
Note bem os excessos e as
extravagâncias da época, mas não esqueça que o mais importante é que ouve posterior
desenvolvimento espiritual e abandono dessas infantilidades. Existiu
crescimento espiritual. Se não somos capazes de entender as coisas nesta
perspectiva ou modelo (paradigma) bíblico, então devemos obrigatoriamente
renunciar a tudo o que Ellen jamais escreveu, e francamente, isso seria uma
atitude tola, precipitada e despropositada. Infelizmente, isso é o que fazem os
críticos. Mas, lamentavelmente a Igreja tampouco tem uma postura clara, honrada
e digna sobre o tema, pelo que muitos bons crentes descarrilam ao aperceber-se
de tudo isto. Incluso os críticos privam-se de atitudes mais moderadas porque a
Igreja tem atitudes infantis, pouco éticas e desonradas.
John Doore testemunhou no
tribunal que tinha"visto homens e mulheres gatinhar pelo solo sobre
mãos e pés." George S. Woodbury disse: "Minha esposa e Dammon
passaram pelo piso gatinhando sobre mãos e pés."
O irmão Bruce Weaver explica o
que se passava nesses primeiros cultos adventistas: "Um correspondente do
Norway Advertiser oferece uma descrição do engatinhar que teve lugar na casa do
capitão John Megquier em Poland, Maine: 'Raras vezes se sentam em qualquer
posição que não seja sobre o piso desnudo.... na reunião a que ele assistiu,
uma mulher se pôs sobre as mãos e pés, e engatinhou por todo o piso como uma
criança. Um homem, na mesma posição, a seguiu, chocando-se cabeça com cabeça
várias vezes. Outro homem se estendeu de costas sobre a cama em toda sua
extensão, e três mulheres o cruzaram com seus corpos." Bruce Weaver, Adventist Currents.
Compare agora este texto que acabou de ler com este outro escrito pela irmã
Ellen em 1894, e repare na maturidade desta última apreciação do culto cristão:
"Cada parte do serviço de Cristo se caracterizará pelo decoro e a
reverência. A verdade de Cristo não pode limitar-se a um certo âmbito, mas será
activa na criação do ambiente, da conduta, dos hábitos, e das práticas que
estarão em harmonia com seu Autor. Tudo se fará decentemente e com ordem. Os
métodos descontrolados, os caprichos estranhos, e a confusão não estão
autorizados pelo Deus de ordem." Ellen White, Signs of the Times, 27 de ago.
de 1894.
Eis aí uma Ellen mais madura! Crescida, longe da infantilidade daqueles
dias, mais perto do modelo bíblico. Neste assunto, porque noutros continuava
defeituosa como pecadora que era. Tal é o caso das comidas e bebidas, em que
mostrava um zelo excessivo, uma vontade enorme, e contudo manducava arenque,
galinha, veado e especialmente ostras (carne impura) e o vício do vinagre
(bomba alcoólica). Leia o nosso livrito Questões do Espírito de Profecia.
No princípio de sua carreira
prevalecia a crença de que gritar era um método eficaz para lutar contra o
diabo. Assim, em 1850, a irmã Ellen escreveu: "Vi que cantar amiúde afasta
o inimigo, e gritar o faz retroceder." Ellen White, Manuscript
5a, 1850; julho 1850, de East Hamilton, N.Y. Mas, mais tarde, por volta de
1900, a irmã White já tem um pensamento mais maduro e cristão acerca das
reuniões ruidosas e escreve o seguinte: "Dou meu testemunho, declarando
que esses movimentos fanáticos, esse barulho e confusão, foram inspirados pelo
espírito de Satanás, que estava operando milagres para enganar, se possível, os
próprios escolhidos." Ellen White ao Irmão e Irmã
Haskell, 10 de out. de 1900. Vê como ela evoluiu?
Este assunto abarca muito mais
do que aquilo que à primeira vista transparece. De facto, ao vasculharmos o
Espírito de Profecia verificamos que o relato que fora escrito pela irmã Ellen,
acerca da detenção e julgamento de Dammon, foi publicado em 1860 no livro Spiritual
Gifts. Contudo, quando esse livro tornou a ser publicado em 1877 com o
título de Spirit of Prophecy, o incidente Dammon foi suprimido sem
qualquer explicação, sub-repticiamente e de modo atrevido (tal como outros
escritos, como já referimos). Ora, isso não é trabalho sério, mas sujo,
abominável, diabólico, uma vez que foi feito no escuro, às escondidas.
O mais curioso deste
"romance" é que a irmã White viu a Dammon no céu e mais tarde o viu
perdido.
Conclusão
Os
problemas levantados pelos críticos não são obviamente assuntos fantasma, mas
temas reais e bem fundamentados. Referimo-nos àquela crítica que é feita com
seriedade, credibilidade e fidelidade. Todavia parece-nos que tão absortos
estavam em derrubar que acabaram por deixar prevalecer o preconceito e certo
entendimento inadequado do papel dos dons espirituais na Igreja, bem como a
autoridade e o dever desta proceder ao seu escrutínio apelando à Sola
Scriptura, e quando não, ao bom senso.
Sucede porém que a Igreja tem
desempenhado muito mal a sua função de supervisora e o que é mais grave,
solapado, escondido, ocultado, manipulado, falsificado e omitido a torto e a
direito. Tem feito tudo à merveille sem informar os seus membros,
esquecendo que é um só corpo. Lamentável!
Por outro lado, para ler
convenientemente o Espírito de Profecia urge aplicar certas regras básicas da
hermenêutica e considerar o paradigma bíblico para entendermos os dons
espirituais ou carismas.
Ellen não surgiu adulta e com
maturidade espiritual, como resultado de algum toque mágico. No cristianismo
não há lugar para magias. Ela foi criança espiritual como qualquer um de nós.
Daí que enquanto estava na mamadeira tivesse incorrido em excessos, erros,
extremismos, crendices, sandices e infantilidades mais frequentemente. Negar
isso é trair o modelo paulino tal como foi exarado na epístola aos coríntios.
Omitir como fazem alguns, negar a veracidade dos documentos (ignorantes!),
serpentear as dificuldades (sofistas!), solapar os dilemas (hipócritas!),
engrazular, falsificar e manipular os factos é atitude de vigarista e de
mentiroso (algo diabólico!). O lastimável é que existem muitas cabeças onde
serve estas carapuças!
Nesse período pretérito e
inicial, digamos sem temer: infantil, cometeram-se muitos excessos e a irmã
Ellen esteve envolvida nisso, evidenciando falta de controle do dom de
profecia; mas quando entendemos que todas essas coisas mesquinhas foram depois
ultrapassadas, superadas, e vemos como Ellen cresce rumo a certa maturidade
espiritual, comprovamos que já vê as coisas de outro modo e baixo nova luz.
Esta evolução, este desenvolvimento da personalidade e do carácter, esta
aprendizagem (com altos e baixos) é uma garantia da sua fidelidade ao Evangelho
(segundo o seu entendimento) e é bem visível pela leitura atenta daquilo que
escreveu. O problema reside em não levar em consideração o contexto e a fase
espiritual que havia alcançado quando disse certas coisas.
Não encontramos um modo mais
apropriado para terminar este livrito do que lembrar estas palavras de Paulo:
"Pois em parte conhecemos
e em parte profetizamos, mas quando vier o que é perfeito, então o que é em
parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, pensava como
menino, raciocinava como menino. Mas logo que cheguei a ser homem, acabei com
as coisas de menino.".
O que estava dizendo Paulo?