Se Patriarchs and Prophets (Patriarcas e Profetas) foi a pedra angular da teologia Adventista, The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Nações) foi a pedra chave no arco do pensamento e pontos de vista cristológicos Adventistas. O prefácio ao tomo dois (1877) de seu predecessor, The Spirit of Prophecy, dizia:
Quando os editores publicaram o primeiro tomo desta obra, pareceu-lhes que supria uma lacuna há longo tempo sentida no mundo cristão, ao alumiar um tema que é de grande interesse para a mente cristã, a relação do filho de Deus com o Pai, e sua posição no céu, junto com a queda do homem e a mediação de Cristo entre ele e seu Criador.Neste segundo tomo, o autor continua com renovado interesse o tema da missão de Cristo, manifestada por seus milagres e ensinos. O leitor encontrará que este livro proporciona inapreciável ajuda no estudo das lições de Cristo apresentadas nos evangelhos.
A autora, como escritora religiosa e oradora, trabalhou para o público durante mais de vinte anos. Sendo ajudada no estudo das Escrituras e em sua obra como instrutora religiosa pela especial iluminação do Espírito de Deus, está peculiarmente qualificada para apresentar os fatos da vida e o ministério de Cristo em relação com o plano divino para a redenção humana, e para aplicar de modo prático as lições de Jesus aos simples deveres da vida.
Uma das mais agradáveis características deste livro é a linguagem suave e simples com o qual a autora reveste os pensamentos que brilham por sua verdade e sua beleza.1
Muitos problemas e muitas situações embaraçosas se teriam evitado em anos vindouros se a alguns outros, além do "Espírito de Deus", se lhes tivesse dado algum crédito. Ainda que as Escrituras expliquem que todo o bem e todo dom perfeito vem de Deus, descobriu-se que alguns dos dons de Ellen para escrever tinham vindo de algumas fontes humanas. Em fins de 1970, Robert W. Olson, em nome do White Estate (que sempre é pressionado para manter a seus leitores e aos membros da igreja em dia nestas coisas), emitiu uma admissão, mais bem tardia, de que Ellen si tinha estado olhando às escondidas as obras de outros autores quando escreveu The Desire of Ages:
Por longo tempo, os Adventistas do Sétimo Dia reconheceram a dívida de Ellen White com outros autores...Não se sabe exatamente até que ponto Ellen White tomou prestado material para The Great Controversy (O Grande Conflito)...
Estudos levados a cabo por Raymond Cottrell e Walter Specht mostraram que Ellen White tomou emprestadas cerca de 2,6% das palavras em The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Nações) de Life of Christ (Vida de Cristo), de William Hanna... No entanto, tanto W.C. White como Marian Davis mencionam outros livros sobre a vida de Cristo que Ellen usou. É também evidente que ela tomou emprestado material de algumas obras não mencionadas nem por W. C. White nem pela Srta. Davis, tal como The Great Teacher, de John Harris...
Os empréstimos literários de Ellen White não se limitaram aos três livros mencionados acima...
Ellen White pode dificilmente ser chamada "copista", já que quase invariavelmente reescreve, reconstrói frases, e melhora a ideia do autor original quando usa material alheio...
Em relação com a preparação de The Desire of Ages em particular, W. C. White diz:
"Antes de escrever sobre a vida de Cristo, e até certo ponto durante o tempo em que escrevia, ela leu obras de Hanna, Fleetwood, Farrar, e Geikie. Nunca soube que lesse a Edersheim. Às vezes se referia a Andrews". De W. C. White para L. E. Froom, Janeiro 8, 1928.Uma comparação entre The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Nações) e as variadas vidas de Cristo disponíveis em seu tempo mostra que ela tomou material, mais ou menos [a cursiva foi adicionada] não só dos autores mencionados acima por W. C. White, senão também de March, Harris, e outros.2
O artigo de Olson, que pode ser uma das mais reveladoras admissões do que o White Estate fez até a data, merece um estudo detalhado. Se esse artigo tivesse circulado, ou sequer se tivesse filtrado, ao público e à igreja em general (o que não ocorreu até o momento em que isto se escreve), este livro poderia não se ter escrito. Com frequência, só a "pessoa informada" que recolhe a assim chamada informação "supersecreta" sabe onde pedir que costure - se tem o privilégio de saber que essa informação existe em absoluto.
Escrever ou dizer que "por longo tempo, os Adventistas reconheceram a dívida de Ellen White com outros autores" é só uma extensão da mentira branca. Ainda que seja tecnicamente verdadeiro que, já desde a década de 1800, a igreja tem levado a cabo uma ação de retaguarda em relação com o uso de material alheio em nome de Deus e de Ellen, as declarações sempre se fizeram à defensiva e com rápida justificativa.
Por exemplo, um artigo de William S. Peterson numa edição de Spectrum de 1971 teria de atrair sobre ele um coro de invectivas espirituais que, na linguagem de um caminhoneiro ou um estivador, levantaria a pintura de qualquer furgão a trinta passos. Que Ellen tinha tomado material emprestado simplesmente não era assim, disse-se. Desde o número desse outono até a década de 1980, o jornal publicou as contínuas acusações e contra-acusações, negações e contra-negações que tratam de refutar qualquer sugestão de que ela tivesse incorporado em seus livros o vocabulário de alguém ou que tivesse sido influenciada por alguém ao escrever.3
Não foi senão até que Neal C. Wilson, presidente da Conferência Geral, escreveu aos dezoito membros do Comité Especial de Glendale para que se dispusessem a revisar o número de ocasiões em que, segundo certas investigações, Ellen tinha "tomado emprestado" material de outros, que os leitores do Adventist Review se inteiraram de que ela tinha usado obras alheias para sacar delas "informação descritiva, biográfica, histórica, espiritual, e científica".4 Como um membro do comité teria de assinalar-lhe a Wilson, "Isso não deixa quase nada, exceto a revelação direta. É sobre esse ponto que o painel terá de decidir?"5 Seguramente, o pessoal do White Estate deve ter sabido todo o tempo que a maior parte dos membros de igreja não tinha tido informação a respeito da quantidade e extensão do material do qual ela tinha "tomado emprestado".
Pelo menos um bom número de eruditos da igreja, que trataram de sacar-lhe ao White Estate material histórico que ajudaria a fazer comparações com os escritos de outros autores, sabem que receberam muito pouca ajuda e estímulo de parte dos que protegem a sacrossanta abóbada do Ellen G. White Estate. A política de "revelação seletiva" (é dizer, O Ellen G. White Estate seleciona o que pode ser revelado) teve tal autoridade que só quando os membros do Clã desaparecem da cena pode a igreja esperar ter acesso à informação que pode revelar a verdade. Uma e outra vez, os homens desse escritório, enquanto percorrem o circuito nacional - o que fazem com mais frequência para ajudar a tranquilizar aos inquietos nativos - tiveram que se enfrentar à pergunta de por que a abóbada não pode abrir-se para todos os pesquisadores para do que a informação esteja disponível para amigos e inimigos por igual, e por que só o Clã é o único que pode selecionar e eleger sempre.
Ainda os que poderiam ter tido sua própria chave da abóbada (por dizê-lo assim), encontram fascinante a possibilidade de que a porta fechada pudesse abrir-se sequer um pouquinho. Donald R. McAdams, pessoalmente um competente pesquisador sobre Ellen e seus escritos, deu uma nota de esperança a respeito dessa possibilidade num artigo em Spectrum em 1980:
Num artigo titulado "This I Believe About Ellen G. White" [Isto Creio A respeito de Ellen G. White], que apareceu no Adventist Review de Março 20, 1980, Neal Wilson informou à igreja a respeito do Comité Rea [Glendale]. O relatório inicial indica que "em seus escritos, Ellen White usou fontes mais extensamente do que até agora nos tínhamos nos inteirado ou havíamos reconhecido... " [a cursiva é nossa].Esta declaração é o artigo mais significativo que já foi publicado na Review neste século. O presidente da Conferência Geral está reconhecendo, aberta e honestamente, os fatos a respeito do uso de fontes por Ellen White, e dirigindo o atendimento da igreja para uma definição de inspiração que será nova para a maioria dos Adventistas e ameaçadora para outros. Uma resposta completa a Rea deve esperar até que ele tenha apresentado sua evidência à igreja em forma escrita e definitiva.6
Inevitavelmente, McAdams reagiria como o fez porque é um historiador honesto que passou pessoalmente muito tempo em 1972-73 examinando um capítulo de The Great Controversy (O Grande Conflito), comparando um capítulo deste livro com a metade de um capítulo do historiador James A. Wylie, e encontrando evidência irrefutável de dependência A parte interessante e significativa desta história, como ele a conta, é que o White Estate não quis permitir-lhe a este historiador da igreja dar a conhecer seu trabalho ou suas conclusões nem à igreja nem ao mundo.7
McAdams tinha outra razão para estar preocupado pelo que estava ocorrendo. Ele era um dos membros do Comité de Glendale ao qual Wilson lhe tinha escrito. Tinha visto parte da evidência, tinha ouvido a apresentação de Janeiro 28-29 de 1980, e ele mesmo lhe tinha dito a seus colegas que a evidência tinha sido realmente "surpreendente."8 Até indicou que "se cada parágrafo de The Great Controversy (O Grande Conflito) tivesse que ter notas ao pé de acordo com o procedimento correto, então quase cada parágrafo teria que ter sido anotado." É de interesse observar que os membros do comité presentes, que pertenciam ao White Estate, não se lhe opuseram.9
Como teriam podido? Estavam sentados ali com informação privilegiada. Ronald D. Graybill, secretário ajudante do White Estate, esteve presente na reunião. Ele também tinha estado trabalhando nos arquivos e, em Maio de 1977, tinha terminado uma comparação entre Ellen White e suas estreitas paráfrases de outro historiador, Merle D'aubigné. Ao continuar seu estudo, o que apareceu ante os assombrados olhos de Graybill foi, não DAubigné em absoluto, senão uma versão popularizada de DAubigné que tinha sido preparada pelo Reverendo Charles Adams para leitores jovens, e este material tinha sido publicado primeiro, não em The Great Controversy (O Grande Conflito), senão no Signs of the Times (Sinais dos Tempos) de 11 de Outubro de 1883, num artigo titulado "Luther in the Wartburg."10 As conclusões desta muito boa história de capa e espada foram, como diz McAdams citando a Graybill:
Não parece ter nenhum fato histórico objetivo no relatório da Sra. White de que ela não poderia ter adquirido nada das fontes literárias das quais bebia, exceto por um detalhe:... A impressão geral que este historiador obteve deste estudo é que sustenta o ponto principal de McAdams - que a narração histórica objetiva e terrenal está baseada na obra de historiadores, não em visões.11
Assim que, por que não o dissemos desde o começo? O mais cerca do que jamais estivemos desse tipo de reconhecimento foi de parte do filho, Willie White, (numa carta de Novembro de 1912):
Algumas vezes, quando escrevia os capítulos de The Great Controversy (O Grande Conflito), ela fazia uma descrição parcial de um importante evento histórico, e quando a copista que preparava os manuscritos para a tipografia perguntava a respeito de tempo e lugar, Mãe dizia que essas coisas eram registradas por historiadores conscientes, e que se inserissem as datas usadas por esses historiadores. Outras vezes, ao escrever o que se lhe tinha apresentado, Mãe encontrava em nossos livros denominacionais descrições tão perfeitas de eventos e apresentações de fatos e doutrinas que copiava as palavras destas autoridades.12
As afirmações de Willie seriam modificadas por uma declaração de seu filho Arthur em 1969: "A Sra. White sempre tratou de evitar ser influenciada por outros".13
Teve outro membro do grupo do White Estate que também permaneceu sentado e calado durante aquela reunião de Janeiro de 1980, sem deixar ver seu jogo. Era Robert W. Olson, que tinha sido designado para dirigir o White Estate quando Arthur L. White se aposentou em 1978. Quiçá mais do que qualquer outra pessoa na habitação, exceto W. Richard Lesher (diretor do Instituto Adventista de Investigação Bíblica), Olson sabia onde estavam enterrados alguns dos cadáveres, porque alguns desses cadáveres estavam sendo ressuscitados mais rapidamente do que se podiam levar a cabo os enterros.
Em 1977 e 1978, Olson recebeu certo número de cartas que abriam novas vias de informação sobre a relação entre Ellen e seu livro Patriarchs and Prophets. Segundo Olson, a investigação tinha tomado um giro desagradável ao começar a acercar-se a The Desire of Ages. Quando se lhe perguntou a respeito do persistente rumor de que Ellen tinha recebido ajuda muito humana na preparação do Desire of Ages, não parecia recordar as cartas ou os materiais que estava recebendo, exceto para dizer que o relatório sobre a ajuda era exagerado, e que não tinha razão para crer que o Desire of Ages fora outra coisa que a obra de Ellen White.14
Bem sabia que o rasto para os "empréstimos" de Ellen se estava esquentando, pois ele tinha escrito uma notável carta em relação com isso ao "staff do Ellen G. White Estate o 29 de Novembro de 1978, só dois anos antes da reunião na qual agora negava que existisse problema algum. A carta tocava pontos muito sensitivos, e não estava destinada ao domínio público. Para assegurar a imparcialidade, incluo a carta inteira na seção do apêndice a este capítulo. [N. do T. : Aparece ao final da tradução deste capítulo, depois das notas e referências] Aqui se dão algumas porções:
Faz como oito ou dez meses, o Pastor Rea me enviou uma cópia de algumas de suas investigações que, em sua opinião, mostravam que Ellen White dependeu muito de Edersheim para algumas das coisas que tinha escrito em Desire of Ages, bem como para a própria organização do livro, e o uso de muitos dos títulos dos capítulos.Naquela ocasião, escrevi-lhe ao Pastor Rea e lhe pedi que não seguisse adiante com nenhuns planos de publicar suas descobertas até que eu tivesse oportunidade de falar com ele pessoalmente na Reunião ao Ar Livre da Southern Califórnia Conference, que teria de ter lugar a finais de Julho de 1978. O Pastor Rea em seguida esteve de acordo com esta sugestão. Quando assisti à reunião perto de Palmdale, Califórnia, em Julho passado, passei várias horas falando com o Pastor Rea, e obtive seu consentimento de que deteria o anúncio de seu livro em qualquer grande escala até que tivéssemos a oportunidade de vê-lo primeiro nós mesmos... O Pastor Rea aceitou dar-nos todo o tempo que precisemos antes de dar quaisquer outros passos por sua conta...
Por meio de Jim Nix em Loma Linda e Ed Turner na Universidade de Andrews, inteirei-me de que alguém n área de Loma Linda está comparando o Desire of Ages com o livro "The Life of Christ", de Hanna. Jim Nix me disse que ele viu o livro de Hanna, que está muito sublinhado tanto em vermelho como em azul, e que se supõe que esta é a mesma cópia do livro usado no escritório do White Estate quando a Sra. White preparava seu livro Desire of Ages. Jim Nix sacou uma cópia Xerox deste livro e no-la enviou, assim que a temos aqui em nosso escritório... [A cursiva é nossa].
Ed também me falou de um profissional, um dentista segundo recordação, que vivia na área de Victorville... Este profissional teve acesso recentemente ao livro "Life of Christ", de Hanna, e depois de lê-lo, disse-lhe a Ed que o livro virtualmente "o arrumou" pelo estreito parecido que descobriu entre Hanna e Ellen White.15
A solução proposta por este homem de Deus, que tinha jurado difundir a verdade e a luz, foi como segue:
A única alternativa [de quatro bosquejadas] que me parece ter sentido é a última. O tempo de Jim [Cox] não lhe custará nada ao White Estate, e crio que podemos permanecer o bastante perto dele para que as conclusões a que chegue sejam essencialmente as mesmas às que chegaríamos nós se estivéssemos fazendo o trabalho nós mesmos. Poderíamos pedir-lhe a Jim que prepare um relatório para um comité cada dois ou três semanas.16
Mais tarde, explicou-se na reunião do Comité de Glendale que a carta era só uma pobre seleção de palavras e que seu significado poderia ser mal interpretado.17 Não teve nenhuma má interpretação das palavras de Arthur, no entanto, quando escreveu sobre o tema ao mesmo tempo e ao mesmo grupo:
Tenham presente que o adestramento nas universidades para aceitar ou crer só o que pode ser provado a satisfação do pesquisador pode facilmente conduzir a um enfoque escéptico que não tenha em conta o fato de que pode ter características perturbadoras nos escritos inspirados, o que resulta na necessidade da fé, como o explica Ellen White ao discutir as investigações da Bíblia e seus escritos..."Todos os que procuram ganchos para pendurar suas dúvidas, os encontrarão...".
"A desconfiança para Deus é a consequência natural do coração não renovado...".
"Satanás é capaz de sugerir dúvidas e inventar objeções ao assinalado depoimento que Deus envia".
The Great Controversy (O Grande Conflito), p . 527; Testimonies, tomo 5, p. 675.18
Um pode fechar os olhos e ouvir essa porta ressoar ao fechar-se outra vez, esta vez mais hermeticamente, enquanto os cavaleiros perdidos do temor e da culpa vão galopando pelo céu. Não se ouvia como uma política de portas abertas quando continuou:
Se a Universidade de Andrews participa, são os eruditos adestrados em métodos de investigação por universidades que se sabe demoliram a fé na Bíblia e a confiabilidade dos relatos bíblicos, capazes de emitir um juízo adequado em áreas nas que tanto a absoluta honestidade ao aceitar os registros como a fé baseada na evidência são fatores importantes? Ao fazer decisões quando o pesquisador tem diante opções múltiplas, fracassará a fé na inspiração de Ellen?19
Seria difícil concluir, a partir destas duas missivas confidenciais, que ao povo da Igreja Adventista se lhe estimula a conhecer toda a verdade a respeito de Ellen, incluindo sua destreza para usar material alheio em suas próprias obras, ainda que sem dar crédito.
É necessário adicionar um pouco mais de informação ao quadro para fazê-lo mais completo. Robert Olson esteve sentado durante as reuniões do Comité de Glendale com um antigo, mas obssessionante documento virtualmente sobre seus joelhos. O documento tinha sido "descoberto" só umas semanas antes no vestíbulo dos escritórios do Ellen G. White Estate por Desmond Ford em sua busca da verdade. Era tão revelador, que se Olson o tivesse lido ou o tivesse usado na reunião, a sessão poderia ter-se encurtado médio dia ou mais. Vinha da pluma de W. W. Prescott (por longo tempo dirigente e anterior vice-presidente da Conferência Geral da Igreja Adventista), que pessoalmente tinha levantado algumas pedras. A carta estava datada de 6 de Abril de 1915, e estava dirigida a Willie, o filho de Ellen, com o qual Prescott tinha trabalhado no duro e por longo tempo:
Parece-me que uma grande responsabilidade descansa sobre aqueles de nós que sabemos que há sérios erros em nossos livros autorizados e que, no entanto não fazemos nenhum esforço especial para corrigi-los. A gente e a média de nossos ministros confiam em que nós lhes proporcionemos declarações confiáveis, e usam nossos livros como autoridade suficiente em seus sermões, mas nós lhes deixamos continuar afirmando, ano depois de ano, coisas que sabemos que são erróneas. Não posso crer que isto é correto. Parece-me que estamos traindo a confiança posta em nós e enganando aos ministros e à gente. Parece-me que há muita mais ansiedade em evitar-les uma possível comoção a algumas pessoas confiadas do que em corrigir o erro.Sua carta indica um desejo de sua parte de me ajudar, mas temo que seja um pouco tarde. A experiência dos últimos seis ou oito anos, e especialmente as coisas em relação com as quais eu conversei com você, afetaram-me de várias maneiras. Tive que me sobrepor a várias duras comoções, e depois de dar o melhor de minha vida a este movimento, recebi dele pouca paz e satisfação, e me sinto compelido à conclusão de que o único que me fica por fazer é fazer caladamente e a consciência o que posso, e deixar que os demais sigam adiante sem mim. Provavelmente, o Ellen G. White Estate está muito longe de ser um final feliz para o trabalho de minha vida, mas parece ser o melhor ajuste que posso fazer. A maneira em que os escritos de sua mãe foram manejados, e a falsa impressão em relação com eles, que ainda é fomentada entre a gente, produziram-me grande perplexidade e prova. Parece-me que se praticou o que equivale a um engano, ainda que provavelmente não intencional, ao preparar alguns de seus livros, e que não se fez nenhum esforço sério para desenganar as mentes da gente do que se sabia eram pontos de vista erróneos em relação com os escritos dela. Mas é inútil afundar nestes assuntos. Conversei com você por anos a respeito de eles, mas isso não muda nada. Creio, no entanto, que estamos derivando para uma crise que virá, tarde ou temporão, e, quiçá, mais temporão que tarde. Já calou um sentimento de reação muito forte.20
A evidência relatada mais adiante mostra por que Prescott estava ainda mais preocupado do que indicava sua carta. Com a bênção de outros oficiais, ele mesmo tinha ajudado a escrever alguns dos mesmos livros dos quais se queixava. Como podia ele, em boa consciência (e não temos evidência de que não era homem de boa consciência), deixar que a igreja seguisse crendo que o que ele e outros tinham ajudado a escrever em nome de material devocional agora teria de ser recebido como a palavra final e autorizada de Deus e converter-se na base da cristologia Adventista no mundo (por si só um tema de especial interesse para Prescott)
É agora evidente - a partir de informação que o White Estate possui e de material que se filtrou de outras fontes - que a igreja está em problemas no que concerne a Ellen e seus raptarias. Identificou-se demasiado material dos lugares onde ela tinha comprado. Como escreveu McAdams em seu artigo do Spectrum:
Pelo tempo em que o White Estate respondia à evidência de que Ellen White tinha tomado emprestado abundante material dos historiadores protestantes na preparação de The Great Controversy (O Grande Conflito), outro pesquisador estava chamando o atendimento do Ellen G. White Estate à evidência de que ela também tinha tomado emprestado material de autores seculares para outros livros da série Conflito dos Séculos, especialmente Prophets and Kings [Profetas e Reis] e The Desire of Ages [O Desejado de Todas as Nações]. Walter Rea, pastor da Igreja de Long Beach, Califórnia, afirmou, baseando-se em evidência inconclusa apresentada em vários documentos não publicados, que a fonte principal para Prophets and Kings tinha sido Bible History: Old Testament [História Bíblica: O Antigo Testamento], de Alfred Edersheim, originalmente publicado em sete tomos entre 1876 e 1877, e que The Life and Times of Jesus, the Messiah [Vida e Tempos de Jesus, o Messias], que se publicou por primeira vez em 1883, tinha sido a fonte principal para The Desire of Ages...Agora, o crescente conhecimento nos círculos Adventistas a respeito de as investigações de Walter Rea e seus estudos de The Great Controversy (O Grande Conflito) requeriam outra resposta no Review.
A julgar pelos exemplos usados por Arthur White para ilustrar a relação entre Ellen White e Hanna nos artigos 4, 6, e 7, ele já devia ter a sua disposição o muito completo e cuidadoso estudo levado a cabo por Walter Specht. Desejando conhecer a verdade a respeito das fontes que Ellen White tinha usado para The Desire of Ages, e não desejando ser pego sem preparação pela investigação de Walter Rea ou de alguém mais, o White Estate comissionou a dois eminentes eruditos Adventistas para que estudassem a fundo a relação entre The Desire of Ages e The Life of Our Lord, de William Hanna. Raymond F. Cottrell, por longo tempo editor de livros na Review and Herald Publishing Association, tomou os primeiros 45 capítulos, e Walter F. Specht, professor de Novo Testamento na Universidade de Loma Linda, tomou desde o capítulo 46 até o capítulo 86.21
Com a designação de Cottrell e Specht para a tarefa de examinar The Desire of Ages de Ellen, a igreja estava lançando à brecha a seus pesos pesados. Entendia-se perfeitamente nas altas esferas que se a maré crescente de fatos e informação se levava o fundamento de The Desire of Ages, a pedra clave no arco de Santa Ellen ficaria em grave perigo e a mentira branca ficaria exposta. Isto não se entendeu em todas partes, mas muitos dirigentes estavam bem conscientes disso e se sentiam muito apreensivos.
Portanto, o fato de que os Adventistas chamassem a dois de seus melhores homens de sua aposentadoria e de volta à briga era um risco calculado. As credenciais dos dois eram impecáveis. Cottrell, um Adventista de terceira geração, tinha servido à igreja em vários postos de alto nível, incluindo o de editor de livros na Review and Herald, a maior parte de sua vida. Specht era conhecido como erudito, presidente de departamento, e decano das melhores instituições da igreja. Esperava-se que ambos os homens levassem à tarefa, não só sua experiência de toda uma vida, senão também sua integridade.
O relatório emitido ao final de seis meses de estudo foi horrorizante - não tanto pelo que dizia como pelo que revelava por meio do que não enfatizava. O fato mesmo de que se usasse gente de tão alto nível mostrava que a igreja em geral não se tinha inteirado da mentira branca e que os dirigentes estavam decididos a assegurar-se de que a igreja recebesse só informação que fora aceitável para esses dirigentes.
Ambos os homens tomariam o caminho mais curto em seu relatório. Specht, conquanto concedia que Hanna tinha sido usado por Ellen através tanto da primeira edição de The Spirit of Prophecy (tomos dois e três) como da edição posterior de The Desire of Ages, chegou à conclusão de que mesmo assim lhe gostava mais a maneira em do que Ellen tinha parafraseado a Hanna do que a obra do mesmo Hanna.22 Ainda que tivesse descoberto que as cópias de Hanna tinham começado a princípio e terminado ao final, parecia-lhe que o assunto não era tão sério como alguns o tinham considerado.
Cottrell, menos cauteloso, calculou que Ellen tinha tomado 2,6% de Hanna.23 Mostrou a classe de "contabilidade criativa" que tinha usado para obter esta cifra incrível:
Prestou-se atendimento à possibilidade de que Ellen White tivesse dependido de Hanna até certo ponto quanto às passagens da Bíblia que ela citação, e/ou quanto à ordem em que ela os introduz algumas vezes. No entanto, duas considerações impedem a possibilidade de chegar a uma conclusão firme com respeito a qualquer relação nas passagens bíblicas citados...Ademais, tanto White como Hanna usaram a versão do Rei Tiago [King James Version] da Bíblia. Provavelmente edições com referências marginais... Também, provavelmente ambos os utilizaram concordemente... Para localizar as passagens bíblicas relacionados. Assim, ainda que nenhum dos dois escritores visse jamais o que o outro escreveu, ambos provavelmente se refeririam a outras passagens bíblicas aproximadamente na mesma ordem. Além disto, a duas pessoas igualmente familiarizadas com a Bíblia lhes viriam à mente as mesmas passagens bíblicas relacionados, e os introduziriam aproximadamente na ordem indicado pela narração do Evangelho...
Para mim... estes fatos ... indicam que qualquer similitude entre as passagens bíblicas citadas, ou o ordem no qual ocorrem, é, pelo menos em grande parte, se não inteiramente, coincidência e completamente inútil para estabelecer se Ellen White utilizou a Hanna e até que ponto...
Só quando ambos os escritores usam palavras idênticas ou inusuais numa sequência específica pode estabelecer-se uma relação literária além de toda dúvida, [a cursiva foi adicionada].24
Cottrell tinha caído na armadilha da qual Francis D. Nichol mesmo se tinha desfeito - usar o estudo para provar que Ellen não havia "citado" a outros diretamente tanto como se tinha dito. Cottrell parecia passar por alto o fato de que parafrasear é a mais sutil forma de copiar e a mais potencialmente enganosa. Até McAdams disse em seu artigo do Spectrum:
Efetivamente, há alguns parágrafos estreitamente parafraseados e outros parágrafos nos quais, ainda que as palavras de Ellen White sejam diferentes, é claro que ela está seguindo as ideias apresentadas por Hanna. [A cursiva foi adicionada].25
Depois de esforçar-se por diminuir a influência de outros autores na redação de The Desire of Ages, Cottrell efetivamente reconheceu:
No entanto, há numerosos casos de uma clara correlação literária, que provam concludentemente que Ellen White utilizou algumas das palavras, frases, ideias, e sequências de pensamento alheias.26
Em resposta a sua afirmação de que "nem o Dr. Specht nem eu encontramos em nenhum caso nem sequer uma oração em The Desire of Ages que fora idêntica a Life of Christ, nem ainda substancialmente,"27 eu sugiro que o leitor veja a seção de quadros deste capítulo.28 Melhor ainda, deveria obter uma cópia de Hanna de uma biblioteca e ilustrar-se pessoalmente.
Ainda que o texto do relatório em geral não tenha recebido ampla circulação, a cifra do 2,6% foi citada e repetida por todas as partes. Os Adventistas se agarraram a ela como um náufrago se agarra a um salva-vidas e se dirige à orla gritando que se salvou. Em realidade, o alcance do estudo era tão limitado que algumas das questões mais sérias ficaram por tratar. Por exemplo:
- A igreja em general não conheceu em realidade a extensão da mentira branca - e "os irmãos" não
estão ansiosos de fazer-se saber aos membros - Pelo menos já na década de 1870, e ainda na de 1900, Ellen e seus ajudantes estiveram profunda e amplamente envolvidos na extração de material de escritos alheios.
- Se até por cento de Cottrell (qualquer que fosse sua exatidão) estendesse-se à crescente lista de autores identificados como utilizados por Ellen e seus ajudantes, a igreja e seu profeta estariam num tremendo problema e algo começaria a abrir-se pelas costuras.
- O uso, por parte de Ellen , de Hanna e outras fontes não era "revelação seleta," com a permissão de Deus, para rechear uma cena aqui e outra lá para ajudar à memória desfalecente da profetisa, senão um comentário direto e uma paráfrase de cada passagem ou capítulo selecionados - com frequência com pausas para uma homilia;a pessoal, mas da mesma maneira com frequência expandindo essa homilia para fazê-la notavelmente similar ao material devocional do autor copiado.29
- Quiçá, a evidência mais prejudicial que surgiu é a de do que, sem importar a ajuda que Ellen recebesse, humana ou divina, ela tinha a estranha habilidade para regressar e recolher novo material cada vez que o regresso se levava a cabo. Algumas vezes, os pensamentos, as palavras, e as orações que tinham sido tomadas de um autor nas primeiras etapas (1870-84) eram apagadas no produto posterior (The Desire of Ages). Algumas vezes se usava em seu lugar uma amplificação do material do mesmo autor. Mas outras vezes (especialmente quando o copiado anterior tinha sido extenso) extraía-se material de outras fontes ou outros autores de modo tal que a cor das novas fibras não chocasse com o padrão final da tela que se tecia através dos anos. Claramente, os planejadores humanos conheciam bem os mapas que estavam usando para todas as viagens de todos esses anos.30
No entanto, Cottrell, por natureza e prática um erudito honesto, mais tarde permitiu do que sua integridade se sobrepusesse a sua herança e preconceitos Adventistas. Seu silêncio foi rompido o 19 de Setembro de 1981, quando Los Angeles Times, num artigo por John Dart, um editor religioso, citou parte de uma próxima missiva de Cottrell:
A combinação das investigações de Ford e Rea e o tratamento dos dois homens pelos administradores da igreja apresenta uma crise 'com a muito real ameaça de um cisma na igreja que amamos, ' de acordo com Raymond F. Cottrell, um proeminente erudito bíblico Adventista. Cottrell, editor de livros para o Adventist Review por mais de 30 anos, culpou aos administradores da igreja pela "crise Ford-Rea" num artigo para um próximo número do diário independente Spectrum, publicado pelos Foros Adventistas, inclinados à reforma.Tanto Ford como Rea "são amigos da igreja, não inimigos, apesar do fato de que, em ambos os casos, a sabedoria de algumas de suas táticas seja questionável", escreveu Cottrell. Aos futuros historiadores, continuou Cottrell, "a crise Ford-Rea lhes parecerá o clímax lógico, quiçá inevitável, depois de perto de um século de ocultar sob o tapete denominacional os pontos em disputa aos quais eles tinham chamado o atendimento recentemente".31
O rascunho preliminar mesmo de Cottrell ("Our Present Crise: Reaction to a Decade of Obscurantism") [Nossa Crise Atual: Reação a uma Década de Obscurantismo] era ainda mais específico e devastador em seus assinalamentos com o dedo, pois continuava dizendo:
Os únicos elementos novos são a extensa aplicação, por parte de Ford, do princípio apotelesmático, que cada um na igreja segue até certo ponto, e a demonstração por Rea da extensão da dependência literária de Ellen White. Há evidência documentária do fato de que nossos eruditos bíblicos, faz pelo menos vinte e cinco anos, eram bem conscientes de todos os problemas exegéticos que evoca nossa tradicional interpretação de Daniel e Hebreus, e também da dependência literária de Ellen White. Mas, durante os anos que decorreram (noventa e setenta e cinco, respectivamente), a igreja enterrou, consistentemente, oficialmente, e mais ou menos efetivamente, as repetidas e positivamente motivadas tentativas - e em alguns casos às pessoas que presumia de fazer as perguntas também - que competentes eruditos bíblicos, cuja lealdade à igreja não pode ser posta em dúvida, efetuavam com frequência.32
E finalmente jogou a culpa a administradores específicos:
A década de 1969 a 1979 proporciona o fundo histórico imediato para nosso dilema. Antes desta década, nossos eruditos bíblicos trabalhavam caladamente nestes problemas, individualmente e em círculos eruditos, plenamente conscientes do fato de que a igreja se acercava a uma crise da qual, no melhor dos casos, mal se dava conta. Em minhas narrações pessoais, acumuladas através dos anos, há extensa documentação contemporânea do que se estava fazendo, e das medidas oficiais da Conferência Geral para afogar esta investigação erudita. Este registro de ofuscação bem intencionada é vital para entender nosso dilema atual porque foi isto, mais do que qualquer outro fator por si só, o que conduziu a Ford e Rea, especialmente a Ford, a "publicar" suas perguntas. O presente curso de ação deles é uma reação à ofuscação, não uma tentativa gratuita de desconcertar à igreja. A igreja mesma é basicamente responsável pela crise, não Ford nem Rea!A maioria dos seguintes incidentes durante a década de 1969 a 1979 podem documentar-se a partir de meus arquivos pessoais. Para os poucos itens que não estão talheres em meus arquivos pessoais, há evidência documentário em outros lugares, e/ou outras pessoas podem verificar os fatos.
Foi a anunciada política de Robert H. Pierson como presidente da Conferência Geral que os administradores, não os eruditos bíblicos nem os teólogos, tomariam as decisões teológicas da igreja. Durante estes anos, reiterou esta política a indivíduos e aos comités da Conferência Geral, e implementou-a ao nomear a não eruditos (particularmente a Willis Hackett e A Gordon Hyde) para vigiar à comunidade erudita Adventista, governar o Comité de Investigação Bíblica e o Comité Consultivo Sobre Geociência, e reestruturar estes comités de uma maneira calculada para assegurar o efetivo controle administrativo deles.33
Cottrell era só um de muitos mensageiros com mais más notícias para a igreja em sua crise. Fred Veltman, de acordo com The Adventist Review no outono de 1980, era o homem sobre cujos ombros cairia o manto da verdade. Por causa do alvoroço causado pelo estudo Rea, a Review informou:
Depois de um cuidadoso estudo da informação [o Comité Glendale de Janeiro 28-29, 1980] chegou à conclusão de que o uso de fontes por parte de Ellen White tinha sido mais extenso do que tínhamos pensado, e recomendou que um erudito formado em análise literária se encarregasse de levar a cabo um estudo consciencioso de The Desire of Ages. Esta sugestão foi adotada pela Conferência Geral. O Dr. Fred Veltman, um erudito do Novo Testamento da faculdade do Pacific Union College, já está ocupado a tempo completo no projeto, que se espera que lhe tome como dois anos.34
Depois de examinar o material a respeito da controvérsia sobre Ellen White que tinha disponível, Veltman escreveu uma crítica detalhada para o Comité Consultivo Executivo do Presidente em Washington. Nesse relatório, dizia, citando àquele mesmo Raymond Cottrell:
A evidência de Walter Rea e suas conclusões serão e são sumamente prejudiciais para a fé de nossa membresia em EGW.Dizer que "Eu vi" e expressões similares se referem ao conhecimento e não às origens celestiais do conteúdo das visões é pedir-lhe à gente que deixe de crer o que se lhe ensinou durante toda sua vida. A óbvia leitura da expressão em seu contexto o faria a um entender que as visões têm uma fonte celestial. Esta explicação obriga à gente a chegar à conclusão de não se pode assumir a integridade de EGW35
Edward Heppenstall, por longo tempo teólogo Adventista, também é citado por Veltman:
O material de Walter terá um efeito devastador sobre a membresia da igreja. Muitas das respostas que se oferecem agora não são realmente satisfatórias para aqueles que examinaram a informação.36
Até Desmond Ford, o teólogo australiano, faz um devastador resumo, como o informam as palavras de Veltman:
Desmond Ford não crê que EGW tivesse o propósito de enganar. Ao mesmo tempo, não pode estar de acordo com as posições tomadas ou sustentadas pela igreja no sentido de que os escritos de EGW são uma extensão do cânon, que têm autoridade quanto às doutrinas da igreja e que são infalíveis.Desconsidera que Walter Rea está renitente em publicar suas conclusões e que deseja ir com os irmãos se só estes tomam em sério os pontos em disputa e a evidência.37
Veltman mesmo chega às seguintes conclusões:
A maioria das respostas que os porta-vozes da igreja proporciona quando Walter propõe as perguntas não são adequadas. Ademais, a credibilidade dos dirigentes da igreja diminui com cada nova publicação. A igreja é constantemente tomada por surpresa e posta à defensiva. E cada ponto que a igreja admite é "um tanto" para Walter. A igreja deveria estar na linha de frente fazendo o estudo e informando aos membros quando a informação foi cuidadosamente avaliada. O que é difícil de entender é por que a igreja e não o Ellen G. White Estate disposta a trabalhar com Walter apesar de que ele está disposto a trabalhar com a igreja.Walter está decidido a chegar ao fundo do problema e fazer-se saber à igreja. Ele não quer que outra geração passe pela agonia pessoal da desilusão que ele experimentou. Isto não é negociável para Walter, e é difícil criticá-lo por sua convicção em vista da evidência e a história de seu problema na igreja.
A questão dos "Se me mostrou" provavelmente é a mais difícil de contestar.38
Efetivamente, os dirigentes da igreja encontraram difícil enfrentar-se à realidade, mas era óbvio que algo devia fazer-se, e cedo. Assim que, como sempre, os cansados pastores de PREXAD (Comité Consultivo Executivo do Presidente) e o White Estate se voltaram à fonte que tão com frequência lhe negam a seus membros - a lei. Parecia sua última esperança de acalmar a tormenta que não queria desaparecer e para a qual não estavam preparados.
O advogado da Igreja Adventista do Sétimo Dia decide que, por causa do tempo no qual ela viveu, White não era legalmente culpada de plágio.
A Review de I o de Setembro de 1981 anunciou que seu advogado católico tinha declarado isso. De acordo com a definição do advogado, Ellen White não era legalmente uma plagiária, e, portanto, suas obras não constituíam uma violação do direito de autor.39 Este relatório - que claramente evitava os envolvimentos morais, espirituais, ou teológicas no coração do assunto - trouxe muito pouco consolo e arrancou poucos suspiros de alívio dos leitores informados.
Para aumentar a confusão, Arthur Delafield, outro cansado, mas voluntarioso guerreiro, foi chamado de volta ao combate. Delafield, que tinha sido clérigo viajante do White Estate por mais de vinte e cinco anos, escreveu uma resposta a uma carta de um membro leigo da Austrália. Além de fazer perguntas, este leigo tinha declarado uma convicção:
Devo admitir que, às vezes, senti-me airado e desiludido, não com Walter Rea ou de Walter Rea, senão com o "sistema". A questão não é como silenciar ou desacreditar a Walter Rea (ou o Fórum, ou qualquer outra pessoa), senão se o que ele diz é verdadeiro ou não. Posso viver com a verdade a respeito de Ellen White, mas me seria muito difícil sentir entusiasmo a respeito de pertencer, muito menos sustentar e promover, a uma organização que depende de falsidades ou a intimidação para sobreviver.40
A resposta de Delafield foi de novela. Em típico estilo pontifício, declarou:
Sua carta de 27 de Maio, dirigida ao presidente da Conferência Geral, chegou a este escritório. O Pastor Wilson certamente deseja que você o recorde com cálidos sentimentos de irmandade. Seu assistente administrativo, Arthur Patzer, pediu-me que eu lhe conteste, já que passei 25 anos nos escritórios do Ellen G. White Estate como um dos secretários e agora sou fideicomissário vitalício da junta do White Estate...Walter [Rea] passou mais tempo procurando paralelos entre os escritos de Ellen White e fontes não inspiradas do que qualquer pessoa fora do White Estate. Colocou estes paralelos uno ao lado do outro, e o peso da evidência parece indicar que Ellen White foi quase uma criatura de seu tempo - uma plagiadora com enorme capacidade de incorporar escritos alheios para suas próprias mensagens escritos e obter crédito por isso.
Digo que o que antecede pareceria ser o que Walter Rea tinha provado. No entanto, um pesquisador cuidadoso... sente-se grandemente agoniado pela "evidência" de Walter Rea. Digo que isto não é porque há muito, senão porque ele crê que há muito disso, e digo que ele está equivocado. Terrivelmente equivocado. Manifestamente exagerou a situação.41
Finalmente, sua melhor carta aparece na página cinco:
Tenho muito respeito por muitos de nossos teólogos Adventistas. Sentei-me a seus pés, e fui instruído por eles. Admiro-os e respeito-os muito. Gostaria de lhe recordar, no entanto, que você pode revisar a Bíblia desde Génesis até Apocalipse sem encontrar um só texto que indique que os teólogos têm o dom do Espírito Santo. As Escrituras indicam, no entanto, que os profetas têm o dom do Espírito Santo. Ellen White tinha esse dom e ela era canónica no que concerne à autoridade em interpretações doutrinais [a cursiva é nossa].42
Porquanto Delafield, agora aposentado, escreveu sua resposta em papel oficial da Conferência Geral, e invocou o nome do clérigo da igreja, Neal C. Wilson, como sua autoridade para escrever, pareceria que "a igreja" tinha rejeitado extra-oficialmente a controvertida posição que tinha assumido como vinte e quatro anos antes, quando, sob alguma controvérsia e coação, "um grupo representativo de dirigentes Adventistas do Sétimo Dia, instrutores bíblicos, e editores" tinha declarado através da imprensa oficial Adventista:
Desejamos fazer notar...
- Que não consideramos os escritos de Ellen G. White como uma adição ao cânon sagrado das Escrituras.
- Que não cremos que eles sejam de aplicação universal, como a Bíblia, senão particularmente para a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
- Que não os consideramos no mesmo sentido que as Sagradas Escrituras, as quais permanecem como o só e único modelo pelo qual têm de ser julgados todos os outros escritos.
Os Adventistas do Sétimo Dia crêem uniformemente que o cânon das Escrituras se fechou com o livro de Apocalipse. Sustentamos que todos os outros escritos e ensinos, de qualquer fonte que sejam, têm de ser julgados pela Bíblia e estão sujeitos à Bíblia, que é a fonte e a norma da fé cristã. Provamos os escritos de Ellen G. White por meio da Bíblia e em nenhum sentido provamos a Bíblia por meio dos escritos de Ellen G. White...
Nunca consideramos a Ellen G. White na mesma categoria que os escritores do cânon das Escrituras [a ênfase se adicionou].43
Apesar dos melhores esforços do "grupo representativo" de 1957, que publicou as declarações que antecedem em Questions on Doctrine, agora, na carta de 1981 do velho guerreiro, por fim tinha ficado claro o plano detalhado dos pontos de vista extremos e paranóicos do passado. Os Adventistas, por meio de cansados pastores, estavam-lhe dizendo ao mundo que, apesar de todo o duplo sentido do passado e os enganos do presente, eles efetivamente jogavam sua sorte com Ellen como sua autoridade final, para eles, a primeira entre seus iguais. Por meio dele, eles, efetivamente, estão orgulhosos de dizer-lhe ao mundo que eles representam uma seita e que não estão a ponto de associar-se com não-membros de seu culto ou de qualquer resto da comunidade cristã!
Na verdade tem um modo de iludir a um "verdadeiro crente" quando os porta-vozes da igreja parecem estar dispostos a passar por alto a maior parte da informação, a maioria de seus críticos amigáveis, e toda a evidência, em seus esforços por ocultar a realidade.
Ainda outra declaração que saiu a luz nada menos que de parte de W. C. White, o filho de Ellen, não mudou a posição de que tudo o que ela dizia tinha que vir de Deus. Em 1905, supõe-se que ele disse:
Alguns dos mais preciosos capítulos do Desire of Ages se compõem de material que foi escrito primeiro em cartas dirigidas a homens que trabalhavam sob circunstâncias penosas, com o propósito de alegrá-los e instruí-los em seu trabalho. Algumas destas formosas lições a respeito da experiência cristã, ilustrada na vida de nosso Salvador, escreveram-se primeiro em cartas a meu irmão Edson, quando lutava com muitas dificuldades em seu trabalho em Mississipi. Algumas se escreveram primeiro ao Pastor Corliss, quando sustentava uma discussão com um astuto Campbellista em Sydney. Nota: A Irmã White escreveu na cópia original de seu manuscrito, e de seu punho e letra, as seguintes palavras: "Li isto. É correto".44
Mas era inútil. Sempre teria quem diria que se Ellen tinha tocado algo, ou o tinha visto, ou se sequer se tinha inteirado disso, tinha que vir de Deus e que tudo isso era inspirado! Até aquela declaração, tão com frequência citada pelos Adventistas, de que algum bibliotecário dos sagrados salões da Biblioteca do Congresso tinha descrito a The Desire of Ages como um dos dez livros mais impressionantes sobre a vida de Cristo, descobriu-se do que tinha sido sussurrado por algum pregador Adventista caminho a seu trabalho. Mas saber isto não sacudiria nem livraria ao crente verdadeiro. De tais coisas estão feitas as mentiras brancas (de Ellen G. White) nesta vida.
Exposições Selecionadas
| Livros Escritos por White: | Fontes das quais extraiu material: |
|---|---|
| White, Ellen G.
The Desire of Ages, Mountain View, California, Pacific Press, 1898. The Spirit of Prophecy, vols. 2-3, Mountain View, California, Pacific Press, 1877-1878. | Edersheim, Alfred
Bible History, vol. 1, (1876) Reprint, Grand Rapids Eerdmans 1949. The Life and Times of Jesus the Messiah, (1883) Reprint, Grand Rapids Eerdmans 1967. Farrar, Frederic W. The Life of Christ, New York, Dutton, 1877. Fleetwood, John The Life of Our Lord and Saviour Jesus Christ, New Haven, Galpin, 1844. Geike, Cunningham The Life and Words of Christ New York, Appleton, 1883. Hanna, William The Life of Christ New York, American Tract Society, Harris, John The Great Teacher, 2nd ed. Amherst J. S. and C. Adams, 1836 The Great Teacher, 17th ed Boston, Gould and Lincoln, 1870. March, Daniel Night Scenes in the Bible Philadelphia, Zeigler, McCurdy, Walks and Homes of Jesus Philadelphia, Presbyterian Pub. Committee, 1856. |